A criança em tribunal

interseção dos espaços da justiça e do exercício dos direitos de participação

Autores

DOI:

https://doi.org/10.25053/redufor.v5i13.1940

Palavras-chave:

espaço, participação, criança, justiça, direitos

Resumo

No sistema judicial português os espaços da justiça foram desenhados por adultos e estruturados para os adultos, embora acolham uma grande diversidade de destinatários. Nesses vivencia-se a dimensão relacional e a expressão do exercício de poder, mas, sobretudo, publicita-se e expõem-se o privado, revelam-se as emoções e os conflitos, monitorizam-se as competências e escrutinam-se as fragilidades. Da investigação advém a existência de momentos de exclusão das crianças e da infância, a continuidade na reprodução de preconceitos e de uma cultura de não participação endémica. Confirma-se ainda que as conceptualizações sobre a infância e as crianças têm repercussões na práxis, uma vez que persiste uma imagem que as associa à falta de capacidade, espelhada na e pela sua menoridade. Assevera-se assim a contemporaneidade da criança enquanto premissa basilar, quer pela sua presença na amplitude da vida humana como pelo contributo válido e valioso que presta na composição dos seus mundos vividos.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

Helga Cláudia Castro, Centro de Investigação em Estudos da Criança, Universidade do Minho

Jurista, mestre em Serviço Social e doutorada em Estudos da Criança, com especialização em Sociologia da Infância. Trabalhos científicos desenvolvidos privilegiaram abordagens qualitativas e centraram-se especialmente sobre a dialética entre a legislação e as práticas profissionais, o aprofundamento da compreensão do modelo de promoção e proteção, bem como a aplicabilidade efetiva e afetiva dos direitos das crianças. Formação e supervisão nas áreas da proteção das crianças em perigo, violência doméstica, igualdade de género, direitos das crianças e acolhimento residencial. Participação em eventos científicos, nacionais e internacionais, versando as áreas de interesse, bem como a apresentação dos trabalhos de investigação.

Referências

ALCAIDE, C. V.; BALLESTÉ, I. R. How children are discriminated in the use of their rights. In: KUTSAR, D.; WARMING, H. (Ed.). Children and non-discrimination: an interdisciplinary textbook. Tallinn: University of Estonia, 2014. p. 208-220.

BELL, J. Como realizar um projecto de investigação. Lisboa: Gradiva, 1997.

BRANCO, P. Análise da arquitetura judiciária portuguesa: as dimensões de reconhecimento, funcionalidade e acesso à justiça. e-Cadernos CES, Coimbra, v. 23, p. 93-122, 2015.

CARMO, R. A nova organização do sistema judiciário e a jurisdição de família e menores. Revista do Ministério Público, Coimbra, n. 140, p. 9-32, 2014.

CASTRO, H. C. O tempo da infância no(s) tempo(s) da justiça: uma análise do exercício dos direitos de participação das crianças nos processos judiciais. 2018. 488 f. Tese (Doutoramento em Estudos da Criança) – Programa de Pós-Graduação em Estudos da Criança, Universidade do Minho, Braga, 2018.

CONSELHO DA EUROPA. Diretrizes do Comité de Ministros do Conselho da Europa sobre a justiça adaptada às crianças. Strasbourg: Council of Europe, 2013.

DENZIN, N. The art and politics of interpretation. In: DENZIN, N.; LINCOLN, Y. (Ed.). Collecting and interpreting qualitative materials. London: Sage, 1998. p. 313-344.

EMERSON, L. et al. The legal needs of children and young people in Northern Ireland: the views of young people and adults’ stakeholders. Belfast: Centre for Children’s Rights, School of Education, Queen’s University Belfast, 2014.

FLICK, U. Métodos qualitativos na investigação científica. Lisboa: Monitor, 2005.

FRANCISCHINI, R.; FERNANDES, N. Os desafios da pesquisa ética com crianças. Estudos de Psicologia, Campinas, v. 33, n. 1, p. 61-69, 2016.

GAL, T.; DURAMY, B. F. International perspectives and empirical findings on child participation: from social exclusion to child inclusive policies. Oxford: University, 2015.

GUBA, E.; LINCOLN, Y. Competing paradigms in qualitative research. In: DENZIN, N.; LINCOLN, Y. (Ed.). Handbook of qualitative research. Thousand Oaks: Sage, 1994. p. 105-117.

KEKI. Establishing child-friendly justice: reflections on how to bring the child forward in the future justice policy of the European Union. Ghent: Children’s Rights Knowledge Centre, 2013.

LANSDOWN, G. Every child’s right to be heard: a resource guide on the UN Committee on the rights of the child general comment no 12. London: Save the Children UK, 2011.

LANSDOWN, G. The realisation of children’s participation rights: critical reflections. In: PERCY-SMITH, B.; THOMAS, N. (Ed.). A handbook of children and young people’s participation: perspectives from theory and practice. London: Routledge, 2010. p. 11-23.

MANNION, G. Going spatial, going relational: why “listening to children” and children’s participation needs reframing. Discourse: Studies in the Cultural Politics of Education, v. 28, n. 3, p. 405-420, 2007.

MAYALL, B. Towards a sociology for childhood: thinking from children’s lives. Buckingham: Open University, 2002.

MELO, M. F.; SANI, A. A audição da criança na tomada de decisão dos magistrados. Revista de Psicología, Santiago, v. 24, n. 1, p. 1-19, 2015.

PERCY-SMITH, B.; THOMAS, N. (Ed.). A handbook of children and young people’s participation: perspectives from theory and practice. Oxon/New York: Routledge, 2010.

QVORTRUP, J.; CORSARO, W.; HONIG, M.-S. The Palgrave handbook of childhood studies. Basingstoke: Palgrave Macmillan, 2009.

RIBEIRO, C. A criança na justiça: trajectórias e significados do processo judicial de crianças vítimas de abuso sexual intrafamiliar. Coimbra: Almedina, 2009.

SARMENTO, M. J.; FERNANDES, N.; TOMÁS, C. Políticas públicas e participação infantil. Educação, Sociedade e Cultura, Porto, v. 25, p. 183-206, 2007.

STAKE, R. A arte da investigação com estudos de caso. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 2009.

TREVISAN, G. “Somos as pessoas que temos de escolher, não são as outras pessoas que escolhem por nós”. Infância e cenários de participação pública: uma análise sociológica dos modos de codecisão das crianças na escola e na cidade. 2014. 524 f. Tese (Doutoramento em Estudos da Criança) – Programa de Pós-Graduação em Estudos da Criança, Universidade do Minho, Braga, 2014.

VERHELLEN, E. The Convention on the Rights of the Child: reflections from a historical, social policy and educational perspective. In: VANDENHOLE, W. et al. (Ed.) Routledge international handbook of children’s rights studies. London/New York: Routledge, 2015. p. 43-59.

WYNESS, M. Childhood. Cambridge: Polity, 2015.

YIN, R. Estudo de caso: planejamento e métodos. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2001.

Publicado

2019-12-09

Como Citar

CASTRO, H. C. A criança em tribunal: interseção dos espaços da justiça e do exercício dos direitos de participação. Educ. Form., [S. l.], v. 5, n. 13, p. 41–58, 2019. DOI: 10.25053/redufor.v5i13.1940. Disponível em: https://revistas.uece.br/index.php/redufor/article/view/1940. Acesso em: 21 nov. 2024.