Chamada para Dossiê - Povos Indígenas, Quilombolas e Comunidades Tradicionais: contracolonização, terra-território, corpos e ambientes

2023-09-22

Chamada para Dossiê: Povos Indígenas, Quilombolas e Comunidades Tradicionais: contracolonização, terra-território, corpos e ambientes

Povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais apresentam uma diversidade de corpos, terra-territórios e relações com seus ambientes. O pensador quilombola Antônio Bispo dos Santos (2023) defende que o ambiente em que cresceu constitui as memórias do território, é o canto da passarada da Caatinga que informa primeiramente sobre as condições meteorológicas e, por conseguinte, anunciam se o ambiente em direção à roça de quilombo pode ser de segurança e/ou proteção. Essa multiplicidade de conhecimentos, experiências, saberes e práticas apresentam contracolonizadoras abordagens territoriais, considerando as particularidades e singularidades dos povos e comunidades, suas lutas, resistências e autonomias. Os conflitos por recursos naturais envolvem as distintas cosmologias e ecossistemas associados, as terras, campos, águas e florestas, as diferentes imbricações entre humanos e não-humanos, de raça, classe, sexualidade e gênero que afetam e demarcam as disputas por terra-territórios, ambientes e corpos no Pindorama/Abya Yala/América Latina (CUSICANQUI, 2010; PORTO-GONÇALVES, 2009; BISPO DOS SANTOS, 2023).

As coletividades tradicionais, reconhecidos seus direitos específicos, territoriais e culturais, apresentam alternativas à visão modelo desenvolvimentista/extrativista, do agronegócio e do colonialismo interno. Tais povos vivem e praticam o envolvimento junto à natureza/território e do respeito da Terra Mãe (Madre Tierra) como base da vida, Pachamamapacha (terra, cosmos) mama (mãe) – dos povos andinos, e que está relacionada com a perspectiva do Bem Viver (o sumak qamaña dos Aimará e o sumakkawsay dos Quíchua), que passou a ganhar visibilidade e ressonância na perspectivas contracolonizadoras e descoloniais.

            Este dossiê tem como objetivo reunir e divulgar diferentes estudos das dinâmicas territoriais dos povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais do Pindorama /Brasil/Abya Yala, em língua kuna/América Latina. Por isso, é relevante socializar a multiplicidade de conhecimentos, experiências, saberes e práticas de pesquisadoras e pesquisadores verdadeiramente contracolonizadoras e que trabalham junto aos povos e comunidades tradicionais. Livros como os de Antônio Bispo dos Santos (2019; 2023), Elionice Conceição Sacramento (2022), Joelson Ferreira e Erahsto Felício (2021) e Eduardo Gudynas (2019), dentre outros, tensionam a importância da justiça climática e ecológica na atualidade, haja vista que as proposições apresentadas aqui convocam para a necessidade de uma construção de justiça entre humanos e, radicalmente, uma justiça para a Natureza. No conjunto desses livros, como acrescenta Elionice Conceição Sacramento, as mulheres criam e defendem territórios livres de cercas, reivindicando modelos ancestrais e tradicionais de se relacionar com a comunidade e os ambientes.

            Destacam-se alguns temas de interesse para este dossiê, portanto, trabalhos que abordam a diversidade cultural e territorial dos povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais; relações de raça, gênero, comunitárias e familiares; seus conhecimentos, saberes, formas próprias de organização territorial, sociopolítica, cultural; territorialidades, lutas sociais como resistências aos conflitos ambientais e territoriais; direitos territoriais e defesa da agroecologia, a vida e ao bem-viver. Nesse ínterim, são também bem-vindos produções centradas nos direitos constitucionais à saúde, à educação, à terra e à consulta prévia livre e informada; conflitos e gestão territorial; autonomia territorial, práticas alimentares, etnoeducacionais e governos locais; cartografias sociais; desterritorialização e reterritorialização, povos indígenas em contextos urbanos (cidades); relações políticas, econômicas e sociais que interligam terras indígenas, comunidades quilombolas e cidades; fronteiras, fluxos, mobilidades ou processos migratórios do passado ou do presente dos povos indígenas, comunidades quilombolas e demais sujeitos de comunidades tradicionais; estratégias tradicionais de acesso às políticas públicas diferenciadas. Por fim, estimulamos a submissão de propostas com ampla relação com as manifestações artísticas, dinâmicas culturais e cerimoniais, entre outros aspectos que permeiam a ancestralidade, as lutas, resistências e o cotidiano dos povos e comunidades tradicionais em diferentes contextos territoriais, sociais e culturais do Pindorama/Abya Yala/América Latina.

            Nesse sentido, convidamos para enviar contribuições para esse dossiê pesquisadoras e pesquisadores que vêm produzindo, analisando, discutindo e evidenciando o protagonismo dos povos indígenas, quilombolas e demais comunidades tradicionais no Pindorama /Brasil/Abya Yala/América Latina.

Referências

BISPO DOS SANTOS, Antônio. A terra dá, a terra quer. São Paulo-SP: Ubu Editora; Piseagrama, 2023.

________. Colonização, Quilombos: modos e significações. 2ª edição. Brasília-DF: INCRI/UnB; Ayó Editorial, 2019.

CUSICANQUI, Silvia. Ch’ixinakax utxiwa: una reflexión sobre prácticas y discursos descolonizadores. Buenos Aires- Argentina: Tinta Limón, 2010.

GUDYNAS, Eduardo. Direitos da Natureza: Ética, biocêntrica e políticas ambientais. Tradução de Igor Ojeda. São Paulo-SP: Elefante, 2019.

PORTO-GONÇALVES, Carlos Walter. Entre América e Abya Yala – tensões de territorialidades. In: Desenvolvimento e Meio Ambiente, n. 20, p. 25-30, jul./dez. 2009.

SACRAMENTO, Elionice Conceição. Da Diáspora negra ao território de terra e águas: Ancestralidade e protagonismo de mulheres na Comunidade Pesqueira e Quilombola Conceição de Salinas-BA. Curitiba-PR: Appris, 2022.

FERREIRA, Joelson; FELICIO, Erahsto. Por Terra e Território: caminhos da revolução dos povos no Brasil. Arataca-BA: Teia dos Povos, 2021.

 

PRAZO PARA O ENVIO DAS PROPOSTAS (artigos, resenhas críticas, ensaios bibliográficos e outros): até 31 de março de 2024.

O dossiê será publicado no primeiro semestre de 2024.

A Revista GeoUECE aceita artigos em português, inglês e espanhol. As normas para submissão dos textos estão disponíveis em:

Submissões | Revista GeoUECE

 

Editor/a deste Dossiê:
Marcos Mondardo, Universidade Federal da Grande Dourados, Dourados –Mato Grosso do Sul - Brasil.
Rosânia do Nascimento, Programa de Pós-graduação em Antropologia Social, Museu Nacional/UFRJ – Rio de Janeiro – Brasil.