Quando o silêncio vira meme

a necroalgoritmização e o audismo algorítmico

Autores/as

DOI:

https://doi.org/10.46230/lef.v17i3.16165

Palabras clave:

audismo algorítmico, necroalgoritmização, linguagem e exclusão, surdez, justiça epistêmica

Resumen

Este artigo propõe o conceito de audismo algorítmico como ferramenta analítica para compreender como a fonocentralidade atua nos regimes de visibilidade das plataformas digitais. A partir da noção de necroalgoritmização (Araújo, 2025a), investigamos de que modo algoritmos reproduzem e intensificam exclusões dirigidas à comunidade Surda. O estudo ancora-se em abordagens críticas do discurso (Fairclough, 2001; Pennycook, 2006) e analisa a paisagem linguístico-semiótica do Instagram, com ênfase na circulação pejorativa do termo “mudinho”. A metodologia consistiu em análise crítica de enunciados multimodais, emojis, legendas e imagens, que revelam práticas de escárnio e silenciamento, articuladas a mecanismos de curadoria algorítmica. Os resultados evidenciam que as práticas do audismo algorítmico não são neutras, mas performam exclusões naturalizadas, transformando o riso viral em ferramenta de desumanização. Argumenta-se que o audismo algorítmico integra uma estética da necroalgoritmização, operando como dispositivo de poder que delimita os regimes do dizível e invisibiliza corpos Surdos. Concluímos que nomear esse fenômeno amplia os Estudos Críticos da Linguagem e contribui para a promoção de justiça epistêmica, reconhecendo a pluralidade das linguagens humanas, suas estéticas dissidentes e modos legítimos de existência. os objetivos, referencial teórico, metodologia, análise e conclusões.

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Biografía del autor/a

Júlio Araújo, Universidade Federal do Ceará (UFC)

Bolsista de Produtividade em Pesquisa do CNPq. Professor Titular da Universidade Federal do Ceará (UFC), com atuação no Departamento de Letras Vernáculas e no Programa de Pós-Graduação em Linguística. Realizou pós-doutorado em Estudos Linguísticos pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG, 2012) e pós-doutorado em Humanidades pela Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB, 2025). Possui doutorado (2006) e mestrado (2003) em Linguística pela Universidade Federal do Ceará, e graduação em Letras Vernáculas pela Universidade Federal do Acre (2000).

Bruno Carioca, Universidade Federal do Cariri (UFCA)

Professor da Universidade Federal do Cariri (UFCA). Doutorando pelo Programa de Pós-Graduação em Linguística da UFC. Membro do grupo de pesquisa DIGITAL (UFC/CNPq).

Citas

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Publicado

2025-12-10

Cómo citar

ARAÚJO, J.; CARIOCA, B. Quando o silêncio vira meme: a necroalgoritmização e o audismo algorítmico. Linguagem em Foco, Fortaleza, v. 17, n. 3, p. 188–209, 2025. DOI: 10.46230/lef.v17i3.16165. Disponível em: https://revistas.uece.br/index.php/linguagememfoco/article/view/16165. Acesso em: 15 dic. 2025.