Corpos-territórios das mulheres Guarani e Kaiowá: violência e colonialidade

Autores

  • Roberto Chaparro Lopes UFGD

DOI:

https://doi.org/10.52521/geouece.v13i25.12784

Palavras-chave:

Intolerância Religiosa, Gênero, Feminicídio, Assassinatos

Resumo

A violência é um fenômeno multifacetado, que pode ser entendida a partir de seu caráter de uso e abuso de força física e excesso de poder, bem como lida conjunturalmente como se vinculando a colonialidade. O presente trabalho busca apresentar um quadro da violência sofrida por mulheres indígenas Guarani e Kaiowá no estado brasileiro do Mato Grosso do Sul. Para isso, foi utilizado da pesquisa documental junto à jornais e documentos produzidos pela Kuñangue Aty Guasu, grande assembleia das mulheres do povo Guarani Kaiowá. Propõe-se discutir os dados a partir dos conceitos de colonialidade e corpo-território. Entre os principais resultados, observa-se que os munícipios que mais apresentam casos de homicídios de mulheres indígenas são Dourados e Amambai, bem como a importante presença de casos em aldeias. Os homicídios atingem mulheres de todas as idades e se grafam em seus corpos através de ferimentos brutais. Verifica-se ainda casos de intolerância religiosa contra rezadoras tradicionais, marcados por perseguições e torturas. Os dados expõem que a violência contra os corpos-territórios das mulheres Guarani e Kaiowá se pautam em uma territorialidade de violação e dominação estabelecida pela colonialidade.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Métricas

Carregando Métricas ...

Referências

AMADO, A. M. M.; BOURLEGAT, C. A.; URQUIZA, A. H. A. Empoderamento da mulher Kaiowá e Guarani na luta pelo reconhecimento dos direitos indígenas e identidade étnico-cultural. Polis: Online, v. 54, [s/n], p. 1-19, nov. 2019.

ANZALDÚA, G. Borderlands: la frontera. Madrid: Capitan Swing, 1999.

BARDIN, L. Análise de Conteúdo. São Paulo: Edições 70 ,2016.

BENITES, T. Recuperação dos territórios tradicionais Guarani-Kaiowá: Crónica das táticas e estratégias. Journal de la Société desaméricanistes: Online, v. 100. n. 2, 2014.

CABNAL, L. Acercamiento a la construcción de la propuesta de pensamiento epistémico de las mujeres indígenas feministas comunitarias de Abya Yala. In: CABNAL, Lorena. Feminismos diversos: el feminismo comunitario. Madrid: Acsur Las Segovias, 2010, pp. 11-25.

CASTILHO, A. L.; et al. Os invasores: quem são os empresários brasileiros e estrangeiros com mais sobreposições em terras indígenas. São Paulo: De Olho nos Ruralistas, 2023.

CONSELHO INDIGENISTA MISSIONÁRIO. Observatório da violência contra os povos indígenas no Brasil. Brasil: CIMI, 2023. Disponível em: <https://abrir.link/DGXJR>. Acesso em: 21 jun. 2023.

CRUZ HERNÁNDEZ, D. T. Una mirada muy otra a los territorios-cuerpos femeninos. SOLAR - Revista de Filosofía Iberoamericana: Lima, v. 12, n. 1, p. 1-11, 2016.

CUMES, A. E. Mujeres indígenas, patriarcado y colonialismo: un desafía a la segregación comprensiva de las formas de dominio. Anuario Hojas de Warmi: Murcia, v. 17, [s/n], p. 1-16, 2012.

ECHEVERRI, J. A. Territorio como cuerpo y territorio como naturaleza: ¿Diálogo intercultural? In: SURRALLÉS, A.; GARCIA HIERRO, P. (Orgs.). Tierra adentro: território indígena y percepción del entorno. Copenhaguem: Grupo Internacional de Trabaljo sobre Assuntos Indígenas, 2004, p. 259-275.

ESCOBAR, A. Sentipensarconla Tierra: las luchas territoriales y ladimensión ontológica de lasepistemologíasdelSur. Revista de Antropología Iberoamericana: Madrid, v. 11, n. 1, p. 11-32, 2018.

ESCOBAR, A. Territorios de diferencia: laontología política de los “derechos al territorio”. Cuadernos de Antropología Social: Buenos Aires, v. 41, [s/n], p. 25-38, 2015.

FERDINAND, M. Uma ecologia decolonial: pensar a partir do mundo caribenho. São Paulo: Ubu Editora, 2022.

FERNANDES, N. V. E. A raiz do pensamento colonial na Intolerância Religiosa contra religiões de Matriz Africana. Revista Calundu: Brasília, v. 1, n. 1, jan.-jun. 2017.

FOUCAULT, M. Microfísica do poder. São Paulo: Graal, 23 ed., 2004.

GARCÍA-TORRES, M.; et al. Extractivismo y (re)patriarcalización de los territorios. In: CRUZ-HERNÁNDEZ, D. T.; JIMÉNEZ, M. B. (Orgs.). Cuerpos, territorios y feminismos: Compilación latinoamericana de teorías, metodologías y prácticas políticas. Quito: Ediciones Abya-Yala, 2020, p. 23-44.

GIRALDO, O. F.; TORO, I. Afectividad Ambiental: sensibilidad, empatía, estéticas del habitar. Quintana Roo: El Colegio de la Frontera Sur e UniversidadVeracruzana, 2010.

GUDYNAS, E. Estado compensador y nuevos extractivismos: Las ambivalencias del progresismo sudamericano. Nueva Sociedad: Buenos Aires, v. 237, [s/n], p. 128-146, jan.-fev. 2012.

IBGE. Censo 2022: Panorama. Brasília: IBGE, 2023. Disponível em: < https://abrir.link/EZiCc>. Acesso em: 19 nov. 2023.

KRUG, E. G.; et al. (Orgs.). Relatório Mundial sobre violência e saúde. Genebra: Organização Mundial de Saúde, 2002.

KUÑANGUE ATY GUASU. Corpos silenciados, vozes presentes: a violência no olhar das mulheres Kaiowá e Guarani. Dourados-MS: Kuñangue Aty Guasu, nov. 2020.

KUÑANGUE ATY GUASU. Intolerância religiosa, racismo religioso e casas de rezas Kaiowá e Guarani queimadas. Dourados-MS: Kuñangue Aty Guasu, fev. 2022.

KUÑANGUE ATY GUASU. Kuñangue Aty Guasu vem a público denunciar o crime de intolerância religiosa praticada contra as mulheres anciãs Kaiowá e Guarani. Mato Grosso do Sul: Kuñangue Aty Guasu, 16 jan. 2021.

KUÑANGUE ATY GUASU. O racismo e intolerância religiosa: as sequelas de invasões (neo)pentecostais nos Corpos Territórios das Mulheres Kaiowá e Guarani/MS - edição 2022/2023. Mato Grosso do Sul: Kuñangue Aty Guasu, jun. 2023.

LINDÓN, A. Corporalidades, emociones y espacialidades: hacia um renovado betweenness. Revista Brasileira de Sociologia da Emoção: João Pessoa, v. 11, n. 33, p. 698-723, dez. 2012.

LÉVINAS, E. A filosofia e o despertar. In: LÉVINAS, E. Entre nós: ensaios sobre a alteridade. Petrópolis-RJ: Vozes, 2010. p. 103-116.

MARTINS, L. N.; PINHEIRO, G. M. Caçadas: um retrato da violência sofrida pelas lideranças mulheres Guarani Kaiowá. Espaço Ameríndio: Porto Alegre, v. 17, n. 2, p. 179-200, mai.-ago. 2023.

MINAYO, M. C. S. Violência e saúde. Rio de Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2006.

MUÑOZ, K. O. El debate sobre las y los amerindios: entre el discurso de la bestialización, la feminización y la racialización. El Cotidiano: Ciudad de México, v. 184, [s/n], p. 13-22, 2014.

NUÑEZ, G. Monoculturas do pensamento e a importância do reflorestamento do imaginário. Revista ClimaCom: Campinas-SP, v. 8, n. 21, 2021.

OLIVEIRA, M. M. Como fazer pesquisa qualitativa. Petrópolis-RJ: Vozes, 2007.

PASSOS, J. D. A intolerância religiosa: mecanismos e antídotos. Revista Rever: São Paulo, v. 17, n. 3, p. 11-27, set.-dez. 2017.

QUIJANO, A. Colonialidade do Poder e Classificação Social. In: SOUZA SANTOS, B.; MENESES, M. P. (Orgs.). Epistemologias do Sul. Coimbra: Edições Almedina, p. 73-118, 2009.

SANTOS, A. B. As fronteiras entre o saber orgânico e o saber sintético. In: OLIVA. et al. (org.). Tecendo Redes antirracistas. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2019, p. 23-35.

SEGATO, R. “Uma falha do pensamento feminista é acreditar que a violência de gênero é um problema de homens e mulheres”, aponta Rita Segato. Instituto Humanitas Unisinos: São Leopoldo-RS, 28 fev. 2020. Disponível em: <https://abrir.link/LWVex>. Acesso em: 08 jan. 2023.

SEGATO, R. L. Colonialidad y patriarcado moderno: expansión del frente estatal, modernización, y la vida de las mujeres. In: MIÑOSO, Y. E.; CORREAL, D. G.; MUÑOZ, K. O. (Orgs.). Tejiendo de otro modo: Feminismo, epistemología y apuestas descoloniales en Abya Yala. Cali: Editorial Universidad del Cauca, 2014, p. 75-90

SEGATO, R. L. Gênero e colonialidade: em busca de chaves de leitura e de um vocabulário estratégico descolonial. E-cadernos CES: Online, v. 18, [s/n], 2012.

SEGATO, R. L. Lasestructuraselementales de la violência: contrato y status em la etiología de la violencia. Brasília: Universidade de Brasília, 2003.

SEGATO, R. L. Que és un feminicídio: notas para un debate emergente. Brasília: Universidade de Brasília, 2006.

SERAGUZA, L. Cosmos, corpos e mulheres Kaiowá e Guarani: de Aña à Kuña. Dissertação (Mestrado em Antropologia) – Programa de Pós-Graduação em Antropologia, Universidade Federal da Grande Dourados, Dourados, 2013.

RUFINO, L.; SIMAS, L. A. Flecha no tempo. Rio de Janeiro: Mórula, 2019.

SVAMPA, M. As Fronteiras do Neoextrativismo na América Latina: Conflitos Socioambientais, Giro Ecoterritorial e Novas Dependências. São Paulo: Editora Elefante, 2019.

TAVARES DOS SANTOS. J. V. A violência como dispositivo de excesso de poder. Revista Sociedade e Estado: Brasília, v. 10, n. 2, jul.-dez., 1995.

TAVARES DOS SANTOS. J. V. Violências e conflitualidades. Porto Alegre: Tomo Editorial, 2009.

ULLOA, A. Cuerpos-territorios en movimeiento: mujeres indígenas y espacialidades relacionales. In: SILVA, J. M.; ORNAT, M. J.; CHIMIN JUNIOR, A. B. (Orgs.). Corpos e Geografia: expressões de espaços encarnados. Ponta Grossa-PR: Todapalavra, 2023, p. 317-344.

ZARAGOCIN, S. La geopolítica del útero: hacia una geopolítica feminista decolonial en espacios de muerte lenta. In: CRUZ, D. T.; JIMÉNEZ, M. B. (Orgs.). Cuerpos, Territorios y Feminismos: compilación latinoamericana de teorías, metodologías y prácticas políticas. Quito: Ediciones Abya Yala, 2020, p. 83-100.

Downloads

Publicado

2024-12-23

Como Citar

CHAPARRO LOPES, R. Corpos-territórios das mulheres Guarani e Kaiowá: violência e colonialidade . Revista GeoUECE, [S. l.], v. 13, n. 25, 2024. DOI: 10.52521/geouece.v13i25.12784. Disponível em: https://revistas.uece.br/index.php/GeoUECE/article/view/12784. Acesso em: 6 jan. 2025.

Edição

Seção

Dossiê - Povos Indígenas, Quilombolas e Comunidades Tradicionais: contracolonização, terra-território, corpos e ambientes