Práxis educativa e gramática de resistência no Programa Viva a Palavra

Autores

DOI:

https://doi.org/10.46230/lef.v16i4.15218

Palavras-chave:

práxis educativa, gramática de resistência, palavras sementes, pragmática cultural

Resumo

Este artigo toma como objeto de reflexão e pressuposto para a análise a práxis política e educativa do Coletivo Viva a Palavra e suas gramáticas de resistência. Nesse sentido, escrevo a partir de dez anos de minha experiência situada no Viva a Palavra, enquanto um programa de extensão, pesquisa e ensino transformador e enquanto coletivo político- cultural de resistência anticapitalista. A partir da perspectiva da pragmática cultural, modo de fazer pesquisa em Linguística Aplicada e em Educação Popular, comprometida com a transformação social e que ultrapassa os modos de pesquisa descritiva interpretativa, discuto, por meio da análise das palavras sementes nas práticas de linguagem do Viva a Palavra, os caminhos para a construção de uma pesquisa inventiva e colaborativa, em um sentido mais forte do que aquele que se entende como pesquisa participante. Tais caminhos apontam para um fazer pesquisa, extensão e ensino comprometidos com a práxis da libertação em gramáticas de resistência das lutas anticapitalistas e com o enfrentamento da violência contra as juventudes negra e indígena das periferias das grandes cidades da Améfrica Ladina. A análise da práxis do Viva a Palavra também me permitiu destacar as palavras sementes “diálogo” e “amizade” em meio às lutas populares como inéditos viáveis, proposições das gramáticas de resistência que afloram modos de esperançar em formas de vida mais justas, igualitárias e fraternas.

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Biografia do Autor

Claudiana Nogueira de Alencar, Universidade Estadual do Ceará (UECE)

Claudiana é cenopoeta, mediadora de leitura em bibliotecas de iniciativa popular e integrante da Coletiva Elaspoemas: escritas periféricas. Possui licenciatura em Letras pela Universidade Estadual do Ceará, mestrado e doutorado em Linguística pela Unicamp e pós-doutorado em Semântica/Pragmática também pela Unicamp. Atuou como pesquisadora visitante na Universidade de Oxford (2020) e na Universidade de Birmingham -UK (2002-2003 e 2019-2020). Coordena o Programa "Viva a Palavra: circuito de linguagem, paz e resistência da juventude negra da periferia de Fortaleza". Pesquisa as performances, gramáticas culturais e jogos de linguagem na arte e na cultura de coletivos culturais juvenis da periferia, por meio das práticas dos saraus, das mediações de leitura, das vivências cenopoéticas, das bibliotecas livres e da escrita de mulheres na literatura marginal-periférica, com ênfase nas gramáticas de resistência feminina das poetas negras da periferia. 

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Publicado

2025-03-20

Como Citar

ALENCAR, C. N. de. Práxis educativa e gramática de resistência no Programa Viva a Palavra. Revista Linguagem em Foco, Fortaleza, v. 16, n. 4, p. 34–54, 2025. DOI: 10.46230/lef.v16i4.15218. Disponível em: https://revistas.uece.br/index.php/linguagememfoco/article/view/15218. Acesso em: 30 mar. 2025.

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