Práxis educativa e gramática de resistência no Programa Viva a Palavra
DOI:
https://doi.org/10.46230/lef.v16i4.15218Palavras-chave:
práxis educativa, gramática de resistência, palavras sementes, pragmática culturalResumo
Este artigo toma como objeto de reflexão e pressuposto para a análise a práxis política e educativa do Coletivo Viva a Palavra e suas gramáticas de resistência. Nesse sentido, escrevo a partir de dez anos de minha experiência situada no Viva a Palavra, enquanto um programa de extensão, pesquisa e ensino transformador e enquanto coletivo político- cultural de resistência anticapitalista. A partir da perspectiva da pragmática cultural, modo de fazer pesquisa em Linguística Aplicada e em Educação Popular, comprometida com a transformação social e que ultrapassa os modos de pesquisa descritiva interpretativa, discuto, por meio da análise das palavras sementes nas práticas de linguagem do Viva a Palavra, os caminhos para a construção de uma pesquisa inventiva e colaborativa, em um sentido mais forte do que aquele que se entende como pesquisa participante. Tais caminhos apontam para um fazer pesquisa, extensão e ensino comprometidos com a práxis da libertação em gramáticas de resistência das lutas anticapitalistas e com o enfrentamento da violência contra as juventudes negra e indígena das periferias das grandes cidades da Améfrica Ladina. A análise da práxis do Viva a Palavra também me permitiu destacar as palavras sementes “diálogo” e “amizade” em meio às lutas populares como inéditos viáveis, proposições das gramáticas de resistência que afloram modos de esperançar em formas de vida mais justas, igualitárias e fraternas.
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