Sentidos em Torno do Corpo Transexual
O Discurso Médico- Científico no Livro A Garota Dinamarquesa de David Ebershoff
DOI:
https://doi.org/10.46230/2674-8266-11-2919Palavras-chave:
Garota dinamarquesa, corpo, discurso médico-científico, transexualidadeResumo
Este artigo tem como objetivo discutir os sentidos em torno do corpo transexual por meio do discurso médico-científico na construção da personagem de Lili Elbe, em A Garota dinamarquesa, escritor David Ebershoff, na qualidade de mulher transexual. Teoricamente, este trabalho tem se fundamentado em uma perspectiva indisciplinar queer de linguística aplicada (MOITA LOPES, 2006; FABRICIO, 2017; BUTLER, 1990; SALIH, 2017; MISKOLCI, 2017) e pesquisas acerca da corporeidade transexual no discurso médico-científico (BENTO, 2008, 2014; CASSANA, 2018; DENARDIN, 2019). Metodologicamente, este artigo se enquadra num viés analítico-interpretativista. Para geração dos dados, realizou-se a análise do livro e de alguns excertos no intuito de identificar como o discurso médico-científico é construído discursivamente ao longo da narrativa. Sobre a trama, a personagem principal Lili, ou Einar Wegener, é descrita como uma sujeita que vive em um processo dual que oscila entre duas personas distintas, o masculino (Einar) e o feminino (Lili que emerge no decorrer da trama) que se apropria do discurso médico-científico como um (entre)meio para se autojustificar, no entanto, parece colaborar com o processo de patologização, que é correlacionado às mulheres transexuais e que são ainda ditas pelo senso comum como portadoras de transtornos de personalidade relacionados à sexualidade. Os resultados apontam para o estabelecimento de uma essencialidade entre identidade de gênero e sexualidade, embasados na interseccionalidade do discurso médico-científico, vinculados ao essencialismo sexual binário presente na sociedade: homem/mulher, macho/fêmea, deixando assim de legitimar o lugar dos sujeitos trans, que também integram e constituem e sempre fizeram parte da sociedade.
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