A algoritmização da beleza
poder, padronizações e a proliferação da harmonização facial em tempos de IA
DOI:
https://doi.org/10.46230/lef.v17i3.15740Palavras-chave:
harmonização facial, inteligência artificial, padrões de beleza, branquitudeResumo
Uma relação complexa entre padrões de beleza, harmonização facial (HF) e inteligência artificial (IA) se manifesta na sociedade ocidental contemporânea. A IA, ao oferecer ferramentas para personalizar imagens faciais e simular tratamentos estéticos, corre o risco de reforçar padrões de beleza irreais e intensificar a pressão social sobre os indivíduos. Neste contexto, o presente estudo busca compreender a relação entre os denominados “algoritmos da beleza” e os processos de simulação estética, práticas que condicionam estilos de vida e subjetividades contemporâneas. O referencial teórico ancora-se criticamente no Capitalismo de Vigilância (Zuboff, 2019) e na crítica materialista da IA (Crawford, 2025), que a define não como neutra, mas como uma estruturação de poder que amplifica vieses sociopolíticos e opera por meio de tecnologias de classificação herdadas. Utilizando metodologias documentais (análise do e-book “Faces da Vida”) e experimentais (diálogo interativo com o ChatGPT), em uma abordagem analítica que articula a Linguística Textual (Araújo, 2025) e a Interseccionalidade (Collins; Bilge, 2020), o estudo conclui que os algoritmos da beleza atuam como enunciados performativos que comoditizam a estética e reforçam padrões eurocêntricos e heteronormativos de beleza. Os resultados demonstram que a personalização simulada da beleza, mediada pela IA, restringe a autonomia estética ao propor planos de HF que visam a “individualidade uniformizada” , condicionando as práticas de cuidado de si (Foucault, 2004) aos interesses mercadológicos do campo da estética.
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