Educação intercultural

o ensino do PLAc (Português como língua de acolhimento) para imigrantes como forma de resistência

Autores

DOI:

https://doi.org/10.46230/lef.v16i4.15200

Palavras-chave:

educação intercultural, interculturalimigrantes, relação social inter-epistêmica

Resumo

O presente artigo analisa a relevância da educação intercultural na prática pedagógica com imigrantes em situação de vulnerabilidade no Brasil. Foi utilizado um relato de experiência que descreve as vivências de uma educadora no contexto de ensino de PLAc (Português como língua de acolhimento). A metodologia empregada baseia-se no conceito do Pós-método de Kumaravadivelu (2003, 2006 e 2012), uma alternativa crítica aos métodos tradicionais de ensino de línguas, desafiando a prescrição de comportamentos pedagógicos. Para a categorização dos gêneros textuais, foi adaptado o método de classificação de Antunes (2011). A análise desta experiência foi fundamentada nas reflexões das obras de R’boul (2021), Essinger (1988 e 1990) e Freire (1979), indicando que a educação intercultural possibilita uma intervenção crítica sobre o mundo. Neste contexto, a educação intercultural é vista como uma práxis de resistência em que coletivos de imigrantes, sujeitos socioculturais se organizam e mobilizam em resposta à necessidade de implementar ações dialógicas que os integrem à sociedade brasileira. Na conclusão, argumenta-se que a educação intercultural é um movimento educacional no qual a realidade opressora e colonial pode ser superada, transformando-se, portanto, em uma relação social inter-epistêmica em que a pluralidade cultural e de saberes se torna cada vez mais evidente no mundo.

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Biografia do Autor

Gibson Zucca da Silva, University of East Anglia (UEA)

Assistente de Pesquisa, Escola de Educação e Aprendizagem ao Longo da Vida. Doutor em Filosofia, Escola de Educação e Aprendizagem ao Longo da Vida.

Inny Accioly , Universidade Federal Fluminense

Professora Adjunta da Faculdade de Educação e do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal Fluminense (UFF). Doutora em Educação pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Pós-Doutorado em Educação pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. Pesquisadora do Coletivo de Estudos Marxismo e Educação (COLEMARX/UFRJ); do Laboratório de Investigações em Estado, Poder e Educação (LIEPE/UFRRJ); do Grupo de Estudos em Educação Ambiental Desde el Sur (GEASur/ UNIRIO) e do Laboratório de Investigações em Educação, Ambiente e Sociedade (LIEAS/UFRJ). Diretora Eleita para o Grupo de Trabalho Paulo Freire, da American Educational Research Association (AERA) para o período 2023-2026. Membro do International Advisory Committee do World Environmental Education Congress (WEEC). Atua nas áreas: Formação de Professores; Análise de Políticas Educacionais; Educação Internacional e Comparada; Educação Ambiental; Educação e Movimentos Sociais; Trabalho e Educação

Josefina Lopes Simões , Universidade Federal da Paraíba

Doutoranda em Educação pela Universidade Federal da Paraíba, com formação em Filologia e Língua Portuguesa, tendo obtido o título de mestre no Departamento DLCV da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH - USP). Possui aperfeiçoamento no ensino de Português como Língua Estrangeira (PLE) pela Universidade Estadual Paulista (UNESP), além de graduação em Letras Português e Inglês. Trabalhou na função de professora especialista, com experiência no ensino de Língua Portuguesa para estrangeiros, na Comissão de Cooperação Internacional da USP. Também ministra aulas no programa Summer para turmas B1 e B2 de Português para estrangeiros pela Tulane University pelo CET Academic Projects.Possui experiência no ensino de línguas, com ênfase em Português para Estrangeiros, Português como Língua de Acolhimento, Português como Língua de Herança, Português como Língua Materna e Inglês como Segunda Língua. Atuou como voluntária no ensino de Português como Língua de Acolhimento (PLAc) para imigrantes em diversas instituições, como a ONG Oásis Solidário, Missão Paz e EMEF Espaço de Bitita/EMEF Infante Dom Henrique.No presente momento, desenvolve projeto de pesquisa em Educação Popular na Universidade Federal da Paraíba. Trabalha como coordenadora de um cursinho preparatório para o vestibular voltado ao público imigrante e brasileiro, além de coordenar a parte pedagógica de um curso de PLAc pela Rede Emancipa de Educação Popular.Foi membro do Grupo de Estudos PFOL - Português para Falantes de Outras Línguas da Universidade de São Paulo e, atualmente, integra o GEPEDUPSS - Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Popular, Serviço Sociais e Movimentos Sociais da UFPB.

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Publicado

2025-03-20

Como Citar

SILVA, G. Z. da; ACCIOLY , I.; LOPES SIMÕES , J. Educação intercultural: o ensino do PLAc (Português como língua de acolhimento) para imigrantes como forma de resistência. Revista Linguagem em Foco, Fortaleza, v. 16, n. 4, p. 130–147, 2025. DOI: 10.46230/lef.v16i4.15200. Disponível em: https://revistas.uece.br/index.php/linguagememfoco/article/view/15200. Acesso em: 30 mar. 2025.