A função de textos autênticos nos níveis introdutórios da aquisição de expressões idiomáticas

Autores

DOI:

https://doi.org/10.46230/2674-8266-15-7772

Palavras-chave:

Expressões idiomáticas, Compreensão idiomática, Estádios de aquisição idiomática, Referenciação

Resumo

Investiga como textos autênticos auxiliam crianças nos níveis iniciais de aquisição idiomática a compreenderem estruturas do léxico complexo, por via de um intercruzamento teórico e metodológico da Fraseologia e da Referenciação. Como aporte teórico, recorreu-se aos trabalhos de Gibbs (1993), Cacciari (1993) e Vega-Moreno (2003) para discorrer sobre algumas características das expressões idiomáticas, ao passo que Levorato (1993) e Vulchanova, Vulchanov e Stankova (2011) serviram de base a fim de se descrever os níveis de aquisição idiomática. Decidiu-se apelar, entre outros, para os trabalhos em referenciação de Koch (2004), Marcuschi (2005, 2006), Teixeira (2010) e Cavalcante (2011), a fim de situar os fraseologismos em questão em uma esfera pragmática. Nosso design metodológico avalia o modo como quatro crianças de sete/oito anos de idade buscam compreender a expressão idiomática Deus Grego por meio da aplicação de entrevistas semiestruturadas, executadas em três fases e amparadas na leitura do quadrinho da Turma da Mônica (Maurício Araújo de Sousa) intitulado Monicão e o Ciumão. A expressão idiomática mostrada em um contexto autêntico permitiu às crianças mobilizarem conhecimentos de mundo e estabelecerem relações de sentido entre texto verbal e não verbal. Os resultados mostraram, com suporte no quadrinho da Turma da Mônica, que crianças nos níveis introdutórios de aquisição são altamente dependentes de um contexto para estabelecer as relações entre expressão e texto, aplicar seus conhecimentos prévios na leitura, bem como utilizar as imagens como meio de compreender os sentidos idiomáticos.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Biografia do Autor

José William da Silva Netto, Universidade Federal do Ceará (UFC)

Professor da Casa de Cultura Britânica da Universidade Federal do Ceará (UFC). Doutor em Linguística pela Universidade Federal do Ceará (UFC). Tem experiência na área de Letras, atuando na linha de pesquisa em Aquisição e Desenvolvimento da Linguagem, com ênfase nos seguintes temas: ensino de Língua Inglesa como LE, Português para Estrangeiros, Fraseologia, Estratégias de Compreensão de Expressões Idiomáticas e Interlíngua.

Referências

ACKERMAN, B. P. On comprehending idioms: Do children get the picture? Journal of Experimental Child Psychology, Florida, v. 33, n. 3, p. 439-454, 1982. DOI: https://doi.org/10.1016/0022-0965(82)90058-3

BIDERMAN, M. T. C. Unidades complexas do Léxico. In: RIO-TORTO, G.; FIGUEIREDO, O. M.; SILVA, F. (Org.). Estudos em homenagem a Mário Vilela. Porto: Faculdade de Letras do Porto, 2005. p. 747-757.

CACCIARI, C.; LEVORATO, M. C. How children understand idioms in discourse. Journal of Child Language, Cambridge, v. 16, n. 2, p. 387-405, 1989. DOI: https://doi.org/10.1017/S0305000900010473

CACCIARI, C. The place of idioms in a literal and metaphorical world. In: CACCIARI, C.; TABOSSI, P. (Org.). Idioms: processing, structure and interpretation. New Jersey: Lawrence Erlbaum, 1993. p. 27-52.

CAIN, K.; TOWSE, A. S.; KNIGHT, R. S. The development of idiom comprehension: an investigation of semantic and contextual processing skills. Journal of Experimental Child Psychology, Amsterdam, v. 102, n. 3, p. 280-298, 2009. DOI: https://doi.org/10.1016/j.jecp.2008.08.001

CAVALCANTE, M. M. Referenciação: sobre coisas ditas e não ditas. Fortaleza: Edições UFC, 2011.

CAVALCANTE, M. M.; CUSTÓDIO FILHO, V.; BRITO, M. A. P. Coerência, referenciação e ensino. São Paulo: Cortez, 2014.

CORTEZ, S. L.; KOCH, I. G. V. A construção do ponto de vista por meio de formas referenciais. In: CAVALCANTE, M. M.; LIMA, S. M. C. (Org.). Referenciação: teoria e prática. São Paulo: Cortez, 2013. p. 9-29.

CORTEZ, S. L. Referenciação e ponto de vista: constituição de instâncias discursivas para a orientação argumentativa na crônica de ficção. In: KOCH, I. G. V.; MORATO, E. M.; BENTES, A. C. (Org.). Referenciação e discurso. São Paulo: Contexto, 2017, p. 319-337.

ETTINGER, S. Alcances e límites da fraseodidáctica. Dez preguntas clave sobre o estado actual da investigación. Cadernos de Fraseoloxía Galega, Santiago de Compostela, v. 10, p. 95-127, 2008.

FONSECA, H. C.; PARREIRA, M. C. Fraseologismos zoônimos do francês-português: da pesquisa ao ensino. In: SILVA, S. (Org.). Fraseologia & Cia. São Paulo: Pontes, 2014, p. 123-140.

GIBBS, R. W. Linguistic factors in children’s understanding of idioms. Journal of Child Language, Cambridge, v. 14, n. 3, p. 569-586, 1987. DOI: https://doi.org/10.1017/S0305000900010291

GIBBS, R. W. Why idioms are not dead metaphors. In: CACCIARI, C.; TABOSSI, P. (Org.) Idioms: processing, structure and interpretation. New Jersey: Lawrence Erlbaum, 1993. p. 57-77.

GIBBS, R. W.; COLSTON, H. L. Psycholinguistic aspects of phraseology: American tradition. In: BURGER, H.; DOBROVOLSKIJ, D.; KUHN, P.; NORRICK, N. (Org.). Phraseologie/phraseology: an international handbook of contemporary research. New York: de Gruyter, 2007. p. 819-836. DOI: https://doi.org/10.1515/9783110190762.819

GLUCKSBERG, S. Idiom meanings and allusional content. In: CACCIARI, C.; TABOSSI, P. (Org.) Idioms: processing, structure and interpretation. New Jersey: Lawrence Erlbaum, 1993. p. 3-26.

KOCH, I. G. V. A coesão textual. São Paulo: Contexto, 1989.

KOCH, I. G. V.; MARCUSCHI, L. A. A. Processos de referenciação na produção discursiva. Delta, São Paulo, v. 14, n. 3, p. 169-190, 1998. DOI: https://doi.org/10.1590/S0102-44501998000300012

KOCH, I. G. V. Linguagem e cognição: a construção e reconstrução de objetos-de-discurso. VEREDAS - Revista de Estudos Linguísticos, Juiz de Fora, v. 6, n. 1, p. 29-42, 2004.

KOCH, I. G. V. Léxico e progressão referencial. In: RIO-TORTO, G.; FIGUEIREDO, O. M.; SILVA, F. (Org.). Estudos em homenagem a Mário Vilela. Porto: Faculdade de Letras do Porto, 2006. p. 263-276.

KOCH. I. G. V.; TRAVAGLIA, L. C. A coerência textual. São Paulo: Contexto, 2015.

KOCH, I. G. V. O texto e a construção dos sentidos. São Paulo: Contexto, 2016.

KOCH, I. G. V. Referenciação e orientação argumentativa. In: KOCH, I. G. V.; MORATO, E. M.; BENTES, A. C. (Org.). Referenciação e discurso. São Paulo: Contexto, 2017, p. 33-52.

LEVORATO, M. C.; CACCIARI, C. Children’s comprehension and production of idioms: the role of context and familiarity. Journal of Child Language, Cambridge, v. 19, n. 2, p. 415-433, 1992. DOI: https://doi.org/10.1017/S0305000900011478

LEVORATO, M. C. The acquisition of idioms and the development of figurative competence. In: CACCIARI, C.; TABOSSI, P. (Org.). Idioms: processing, structure and interpretation. New Jersey: Lawrence Erlbaum, 1993. p. 101-128.

LEVORATO, M. C.; CACCIARI, C. Idiom comprehension in children: are the effects of semantic analysability and context separable? European Journal of Cognitive Psychology, Oxfordshire, v. 11, n. 1, p. 51-66, 1999. DOI: https://doi.org/10.1080/713752299

LEVORATO, M. C.; NESI, B.; CACCIARI, C. Reading comprehension and understanding idiomatic expressions: a developmental study. Brain and Language, Amsterdam, v. 91, n. 3, p. 303-314, 2004. DOI: https://doi.org/10.1016/j.bandl.2004.04.002

LIMA, S. M. C.; FELTES, H. P. M. A construção de referentes no texto/discurso: um processo de múltiplas âncoras. In: CAVALCANTE, M. M.; LIMA, S. M. C. (Org.). Referenciação: teoria e prática. São Paulo: Cortez, 2013. p. 30-58.

MARCUSCHI, L. A. Anáfora indireta: o barco textual e suas âncoras. In: KOCH, I. G. V.; MORATO, E. M.; BENTES, A. C. (Org.). Referenciação e discurso. São Paulo: Contexto, 2005. p. 53-102.

MARCUSCHI, L. A. Referenciação e progressão tópica: aspectos cognitivos e textuais. Caderno de Estudos Linguísticos, Campinas, v. 48, p. 7-22, 2006. DOI: https://doi.org/10.20396/cel.v48i1.8637251

MONDADA, L.; DUBOIS, D. Construção dos objetos de discurso e categorização: uma abordagem dos processos de referenciação. In: CAVALCANTE, M. M.; BIASI-RODRIGUES, B.; CIULLA, A. (Org.). Referenciação. São Paulo: Contexto: 2015, p. 17-52.

MONTEIRO-PLANTIN, R. S. Fraseologia: era uma vez um patinho feio no ensino de língua materna. v. 1. Fortaleza: Edições UFC, 2012.

NIPPOLD, M. A.; MARTIN, S. T. Idiom interpretation in isolation versus context: a developmental study with adolescents. Journal of Speech and Hearing Research, Rockville, v. 32, n. 1, p. 59-66, 1989. DOI: https://doi.org/10.1044/jshr.3201.59

NIPPOLD, M. A.; RUDZINSKI, M. Familiarity and transparency in idiom explanation: a developmental study of children and adolescents. Journal and Speech and Hearing Research, Rockville, v. 36, n. 4, p. 728-737, 1993. DOI: https://doi.org/10.1044/jshr.3604.728

PINHEIRO, C. L. Objeto de discurso e tópico discursivo: sistematizando relações. Linguagem em (Dis)curso, Tubarão, v. 12, n. 3, p. 793-812, 2012. DOI: https://doi.org/10.1590/S1518-76322012000300007

SANTUZ, B. O vei bateu as botas. In: SANTUZ, B. Blog Admita.blog. Rio de Janeiro, 2005. Disponível em: https://bit.ly/2Nj8NyK. Acesso em: 13 nov. 2019.

SILVA NETTO, J. W.; MONTEIRO-PLANTIN, R. S. Processamento referencial das expressões idiomáticas Deus Grego e Deus de Ébano. Intersecções, Jundiaí, v. 11, n. 1, p. 107-125, 2018.

SILVA NETTO, J. W. Análise das estratégias de compreensão idiomática do 1º ao 5º ano escolar. 2020. 286 f. Tese (Doutorado em Linguística) – Centro de Humanidades, Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2020. Disponível em: http://www.repositorio.ufc.br/handle/riufc/54817. Acesso em: 20 maio 2021.

SIQUEIRA, M.; DUARTE JUNIOR, S.; PEREIRA, L. B.; FERRARI, C. G.; LOPES, N. Compreensão de expressões idiomáticas em período de aquisição da linguagem. Letras de Hoje, Porto Alegre, v. 52, n. 3, p. 391-400, 2017. DOI: https://doi.org/10.15448/1984-7726.2017.3.29371

SIQUEIRA, M.; MARQUES, D. F. Desenvolvimento e validação do instrumento de compreensão de expressões idiomáticas. Revista de Estudos da Linguagem, Belo Horizonte, v. 26, n. 2, p. 571-591, 2018. DOI: https://doi.org/10.17851/2237-2083.26.2.571-591

SOUSA, M. Monicão e o Ciumão. São Paulo: Editora Globo. Disponível em: http://turmadamonica.uol.com.br/historia/monica-monica-e-o-ciumao-2/. Acesso em: 12 maio 2018.

SWINNEY, D. A.; CUTLER; A. The access and processing of idiomatic expressions. Journal of Verbal Learning and Verbal Behavior, Amsterdam, v. 18, n. 5, p. 523-534, 1979. DOI: https://doi.org/10.1016/S0022-5371(79)90284-6

SZYNDLER, A. La fraseología en el aula de E/LE: ¿un reto difícil de alcanzar? Una aproximación a la fraseodidática. Didáctica. Lengua y Literatura, Madrid, v. 27, p. 197-216, 2015. DOI: https://doi.org/10.5209/rev_DIDA.2015.v27.50867

TAGNIN, S. E. O. O jeito que a gente diz: expressões convencionais e idiomáticas. São Paulo: Disal, 2013.

TEIXEIRA, C. S. A referenciação textual numa abordagem cognitiva. Revista do Curso de Letras da UNIABEU, Nilópolis, v. 1, n. 2, p. 129-142, 2010.

TERMIGNONI, S.; FINATTO, M. J. B. Sobre a importância de ensinar expressões idiomáticas. Revista de Italianística, São Paulo, n. 35, p. 112-124, 2017. DOI: https://doi.org/10.11606/issn.2238-8281.v0i35p112-124

VEGA-MORENO, R. E. Relevance Theory and the construction of idiom meaning. UCL Working Papers in Linguistics, Columbus, v. 15, p. 303-323, 2003.

VULCHANOVA, M.; VULCHANOV, V.; STANKOVA, M. Idiom comprehension in the first language: a developmental study. Vigo International Journal of Applied Linguistics, Vigo, n. 8, p. 206-234, 2011.

Downloads

Publicado

2023-04-07

Como Citar

SILVA NETTO, J. W. da. A função de textos autênticos nos níveis introdutórios da aquisição de expressões idiomáticas. Revista Linguagem em Foco, Fortaleza, v. 15, n. 1, p. 32–51, 2023. DOI: 10.46230/2674-8266-15-7772. Disponível em: https://revistas.uece.br/index.php/linguagememfoco/article/view/7772. Acesso em: 9 maio. 2024.