“Não Deveria ter tanta Preocupação se o Projeto é Inócuo”

Trajetórias Textuais e Indexicalidade nos Discursos do Projeto de Lei Infância Sem Pornografia

Autores

  • Alexandre José Cadilhe

DOI:

https://doi.org/10.46230/2674-8266-11-2920

Palavras-chave:

Trajetórias textuais, indexicalidade, gênero e sexualidade

Resumo

Situo este estudo no contexto da aprovação de um projeto de lei intitulado “Infância sem pornografia”, submetido à câmara de vereadores da cidade de Juiz de Fora – MG, o qual fora proposto com o efeito de judicialização dos/as professores/as da cidade que discutissem temas como gênero e sexualidade, sob a alcunha de “pornografia” pela autoria do projeto de lei. Uma vez proposta a lei, tal texto foi objeto de discussão em diversas sessões na câmara municipal entre janeiro de 2017 e abril de 2018.  Diferentes discursos destes eventos foram entextualizados (BAUMAN ; BRIGGS, 1990) em diferentes mídias jornalísticas. Neste artigo, coloco sob escrutínio o texto-base da lei, bem como notícias divulgadas no jornal local, em uma análise a partir dos conceitos de trajetórias textuais, entextualizações e indexicalidade (BAUMAN ; BRIGGS, 1990; BLOMMAERT, 2005). Ao analisar tal material, observo como discursos (GEE, 2005) sobre gênero e sexualidade são indexicalizados. Além de colocar em jogo disputas sobre os sentidos do que vem a ser “pornográfico”, produzindo um “pânico moral” (MISKOLCI, 2007), tais textos indicam que seus apoiadores não consideram os efeitos perlocucionários (AUSTIN, 1990) dos enunciados da lei no que tange ao trabalho dos professores da rede pública local, além de constituir-se por diferentes recursos linguísticos que lançam o tema como uma questão de partidarismo político e não de interesse público. Ao final, proponho uma reflexão sobre a educação e o papel desempenhado pela referida lei municipal nos avanços do conservadorismo.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

AUSTIN, J. Quando dizer é fazer. Porto Alegre: Artes Médicas, 1990.

BAUMAN, R.; BRIGGS, C. Poética e performance como perspectivas críticas sobre a linguagem e a vida social. In: Ilha – Revista de Antropologia, v.8, n.1/2, p.185-229 [1990] 2006.

BENTO, B. Transviad@s: gênero, sexualidade e direitos humanos. Salvador: EDUFBA, 2017.

BLOMMAERT, J. Contexto é/como crítica. In: SIGNORINI, I. (org.). Situar a Lingua[gem]. São Paulo: Parábola, 2008. p.93-115.

BLOMMAERT, J. Discourse: a critical introduction. Cambridge: Cambridge University Press, 2005.

BRITZMAN, D. Curiosidade, sexualidade e currículo. In: LOURO, G.L. (org.). O corpo educado: pedagogias da sexualidade. Belo Horizonte: Autêntica, 2013.p.83-112.

BULGARELLI, L. Moralidades, direita e direitos LGBTI nos anos 2010. In: GALLEGO, Esther Solano (org.). O ódio como política: a reinvenção das direitas no Brasil. São Paulo: Boitempo, 2018. p.97-102.

CADILHE, A. J. Letramento, gênero e sexualidade na escola: reflexões para uma transversalidade curricular. In: REIS, Andreia Garcia; MAGALHÃES, Tania. (Org.). Letramentos e Práticas de Ensino. 1ed.Campinas: Pontes, v. 1, p. 167-182, 2016.

CADILHE, A. J. 'Tenho dificuldades em lidar com essa situação': narrativas, gênero e sexualidade na formação continuada de professores/as. Humanidades & Inovação, v. 4, p. 46-54, 2017.

CARA, D. Contra a barbárie, o direito à educação. In: CÁSSIO, Fernando (org.). Educação contra a Barbárie. São Paulo: Boitempo, 2019. p. 25-32.

FABRICIO, B. Transcontextos educacionais: gêneros e sexualidades em trajetórias de socialização na escola. In: SILVA, Daniel; FERREIRA, Dina; ALENCAR, Claudiana. Nova Pragmática: modos de fazer. São Paulo: Cortez, 2014. p. 145-189.

GEE, J. P. An Introduction to Discourse Analysis: theory and method. New York: Routledge, 2005.

JUNQUEIRA, R. D.. Pedagogia do armário: a normativdade em ação. Revista Retratos da Escola, Brasília, v. 7, n. 13, p. 481-498, 2013.

JUNQUEIRA, R. D. A invenção da 'ideologia de gênero': a emergência de um cenário político-discursivo e a elaboração de uma retórica reacionária antigênero. Revista de Psicologia Política, v. 18, p. 449-502, 2018.

JUNQUEIRA, R. D. A “ideologia de gênero” existe, mas não é aquilo que você pensa que é. In: CÁSSIO, Fernando (org.). Educação contra a Barbárie. São Paulo: Boitempo, 2019. p. 135-140.

MISKOLCI, R. Pânicos morais e controle social: reflexões sobre o casamento gay. Cad. Pagu, n.28, p.101-128, 2007.

MISKOLCI, R. Teoria Queer: um aprendizado pelas diferenças. Belo Horizonte: Autêntica, 2013.

MOITA LOPES, L. P.; FABRICIO, B. F. Desestabilizações queer na sala de aula: “táticas de guerrilha” e a compreensão da natureza performativa dos gêneros e das sexualidades. In: PINTO, J.; FABRICIO, B. (org.). Exclusão social e microrresistências: a centralidade das práticas discursivo-identitárias. Goiânia: Cânone Editorial, 2013. p.283-301

PENNA, F. O discurso reacionário de defesa de uma “escola sem partido”. In: GALLEGO, Esther Solano (org.). O ódio como política: a reinvenção das direitas no Brasil. São Paulo: Boitempo, 2018. p.109-114.

VEIGA-NETO, A. Por que governar a infância? In: RESENDE, Aroldo (org.). Michel Foucault: o governo da infância. Belo Horizonte: Autêntica, 2015. p. 49-56.

Downloads

Publicado

2020-03-23

Como Citar

CADILHE, A. J. “Não Deveria ter tanta Preocupação se o Projeto é Inócuo”: Trajetórias Textuais e Indexicalidade nos Discursos do Projeto de Lei Infância Sem Pornografia. Revista Linguagem em Foco, Fortaleza, v. 11, n. 2, p. 180–196, 2020. DOI: 10.46230/2674-8266-11-2920. Disponível em: https://revistas.uece.br/index.php/linguagememfoco/article/view/2920. Acesso em: 22 dez. 2024.