A PERPETUAÇÃO DO BINARISMO ENTRE OS CHAMADOS “PROFESSORES FALANTES NATIVOS” E “PROFESSORES FALANTES NÃO NATIVOS” VIA O SISTEMA DE AVALIAÇÃO
Palavras-chave:
Professor falante nativo, Ensino de língua estrangeira, AvaliaçãoResumo
O presente trabalho representa um recorte de um estudo mais amplo1, visando entender os significados criados por dois professores, dois coordenadores e dois alunos no que tange à reprodução e/ou ao questionamento do mito do professor falante nativo (doravante PFN), bem como a forma que tais significados dialogam com o discurso hegemônico que circula no nível macrossocial e privilegia o PFN (PENNYCOOK, 1998; PHILLIPSON, 1992). A partir da visão socioconstrucionista de linguagem (BUCHOLTZ; HALL, 2005; MOITA LOPES, 2001), entende-se a prática discursiva como um lócus para a revalidação ou a desconstrução do mito do PFN e a microanálise baseia-se na identificação de marcas avaliativas, enfocadas sob a perspectiva teórica do Sistema de Avaliatividade (MARTIN; WHITE, 2005; VIAN JR., 2009, 2011). É uma pesquisa qualitativa interpretativa e as entrevistas semiestruturadas foram norteadas pela ótica de Mishler (1986), levando em consideração a natureza situada e dialógica do discurso gerado. Durante as interações analisadas, identifica-se julgamentos positivos de capacidade e normalidade recorrentementepermeiam supervalorizações do PFN, retratando o PFN como o padrão prestigiado, e o professor falante não nativo, como um desvio do modelo nativo dominante (NAYAR, 2002), embora, por vezes, abra-se espaço para que tais manifestações possam ser refutadas. Os resultados sugerem que os participantes se alinhem com a manutenção do status quo convencional problematizado pelos estudiosos da linguística aplicada (CANAGARAJAH, 2007; RAJAGOPALAN, 2006), indicando a importância de uma participação mais ativa por parte dos pesquisadores, a fim de que a entrevista possa gerar reflexões aprofundadas e possíveis transformações.
Downloads
Referências
BUCHOLTZ, M.; HALL, K. Language and Identity. In: DURANTI, A. (Ed.). A Companion to Linguistic Anthropology. Oxford: Basil Blackwell, 2005.
CANAGARAJAH, S. Língua Franca English, Multilingual Communities, and Language Acquisition. The Modern Language Jornal, 91/2007.
DENZIN, N. K.; LINCOLN, Y. S. O planejamento da pesquisa qualitativa: Teorias e abordagens. Porto Alegre: Artmed, 2006.
FABRÍCIO, B.F. Linguística aplicada como espaço de “desaprendizagem”: redescrições em curso. In: MOITA LOPES, L. P. (Org.). Por uma Linguística Aplicada Indisciplinar. São Paulo: Parábola, 2006.
HALLIDAY, M. A. K. An Introduction to functional grammar. London: Edward Arnold, [1985] 1994.
MARTIN, J. R.; WHITE, P. The language of evaluation. Great Britain: Palgrave/Macmillan, 2005.
MISHLER, E. G. Research Interviewing: Context and narrative. USA: Harvard, 1986.
MOITA LOPES, L.P. Práticas narrativas como espaço de construção de identidades sociais: uma abordagem socioconstrucionista. In: RIBEIRO, B. T.; LIMA, C.; DANTAS, M. T. (Orgs.). Narrativa, Identidade e Clínica. Rio de Janeiro: IPUB, 2001.
NAYAR, B. Ideological Binarism in the Identities of native and non-native English speakers. In: DUSZAK, A. Us and Others. Social Identities across languages, discourses and cultures.
Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins, 2002.
ORTON, N, E. “A questão vai além do que está no passaporte da pessoa”: desconstruindo a polarização entre os chamados ‘professor falante nativo’ e ‘professor falante não nativo’. 2014.
248f. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-graduação em Letras, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro - RJ, 2014.
PENNYCOOK, A. English and the discourses of colonialism. London: Routledge, 1998.
PHILLIPSON, R. Linguistic Imperialism. Oxford: OUP, 1992.
RAJAGOPALAN, K. Repensar o papel da linguística aplicada. In: MOITA LOPES, L. P. Por uma Linguística Aplicada Indisciplinar. São Paulo: Parábola, 2006.
TANNEN, D. “Oh talking voice that is so sweet”: constructing dialogue in conversation. In Talking voices. Repetition, dialogue and imagery in conversational discourse. Cambridge: CUP, 2007 [1989].
VIAN JR., O. O Sistema de Avaliatividade e os recursos para garadação em Língua Portuguesa: questões terminológicas e de instanciação. D.E.L.T.A. 25:1, 2009.
VIAN JR., O. O Sistema de Avaliatividade e a linguagem da avaliação. In: VIAN JR. O.; ALVES DE SOUZA, A.; ALMEIDA, F. S. D .P. (Orgs.). A linguagem da avaliação em língua portuguesa: estudos sistêmico-funcionais com base no Sistema de Avaliatividade. São Carlos, SP: Pedro & João Editores, 2011.
WHITE, P. Appraisal homepage. Disponível em: <www.grammatics.com/appraisal> [2001] 2014. Acesso em: Ago. 2014.
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Copyright (c) 2019 Naomi Elizabeth Orton, Adriana Nogueira Accioly Nóbrega, Inés Kayon de Miller
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
Os autores que publicam na Linguagem em Foco concordam com os seguintes termos:
- Os autores mantêm os direitos autorais e concedem à revista o direito de primeira publicação. Os artigos estão simultaneamente licenciados sob a Creative Commons Attribution License que permite a partilha do trabalho com reconhecimento da sua autoria e da publicação inicial nesta revista.
- Os conceitos emitidos em artigos assinados são de absoluta e exclusiva responsabilidade de seus autores. Para tanto, solicitamos uma Declaração de Direito Autoral, que deve ser submetido junto ao manuscrito como Documento Suplementar.
- Os autores têm autorização para disponibilizar a versão do texto publicada na Linguagem em Foco em repositórios institucionais ou outras plataformas de distribuição de trabalhos acadêmicos (ex. ResearchGate, Academia.edu).