A PERPETUAÇÃO DO BINARISMO ENTRE OS CHAMADOS “PROFESSORES FALANTES NATIVOS” E “PROFESSORES FALANTES NÃO NATIVOS” VIA O SISTEMA DE AVALIAÇÃO

Autores

  • Naomi Elizabeth Orton PUC - Rio
  • Adriana Nogueira Accioly Nóbrega PUC-RIO
  • Inés Kayon de Miller PUC-RIO

Palavras-chave:

Professor falante nativo, Ensino de língua estrangeira, Avaliação

Resumo

O presente trabalho representa um recorte de um estudo mais amplo1, visando entender os significados criados por dois professores, dois coordenadores e dois alunos no que tange à reprodução e/ou ao questionamento do mito do professor falante nativo (doravante PFN), bem como a forma que tais significados dialogam com o discurso hegemônico que circula no nível macrossocial e privilegia o PFN (PENNYCOOK, 1998; PHILLIPSON, 1992). A partir da visão socioconstrucionista de linguagem (BUCHOLTZ; HALL, 2005; MOITA LOPES, 2001), entende-se a prática discursiva como um lócus para a revalidação ou a desconstrução do mito do PFN e a microanálise baseia-se na identificação de marcas avaliativas, enfocadas sob a perspectiva teórica do Sistema de Avaliatividade (MARTIN; WHITE, 2005; VIAN JR., 2009, 2011). É uma pesquisa qualitativa interpretativa e as entrevistas semiestruturadas foram norteadas pela ótica de Mishler (1986), levando em consideração a natureza situada e dialógica do discurso gerado. Durante as interações analisadas, identifica-se julgamentos positivos de capacidade e normalidade recorrentementepermeiam supervalorizações do PFN, retratando o PFN como o padrão prestigiado, e o professor falante não nativo, como um desvio do modelo nativo dominante (NAYAR, 2002), embora, por vezes, abra-se espaço para que tais manifestações possam ser refutadas. Os resultados sugerem que os participantes se alinhem com a manutenção do status quo convencional problematizado pelos estudiosos da linguística aplicada (CANAGARAJAH, 2007; RAJAGOPALAN, 2006), indicando a importância de uma participação mais ativa por parte dos pesquisadores, a fim de que a entrevista possa gerar reflexões aprofundadas e possíveis transformações.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1997 [1979].
BUCHOLTZ, M.; HALL, K. Language and Identity. In: DURANTI, A. (Ed.). A Companion to Linguistic Anthropology. Oxford: Basil Blackwell, 2005.
CANAGARAJAH, S. Língua Franca English, Multilingual Communities, and Language Acquisition. The Modern Language Jornal, 91/2007.
DENZIN, N. K.; LINCOLN, Y. S. O planejamento da pesquisa qualitativa: Teorias e abordagens. Porto Alegre: Artmed, 2006.
FABRÍCIO, B.F. Linguística aplicada como espaço de “desaprendizagem”: redescrições em curso. In: MOITA LOPES, L. P. (Org.). Por uma Linguística Aplicada Indisciplinar. São Paulo: Parábola, 2006.
HALLIDAY, M. A. K. An Introduction to functional grammar. London: Edward Arnold, [1985] 1994.
MARTIN, J. R.; WHITE, P. The language of evaluation. Great Britain: Palgrave/Macmillan, 2005.
MISHLER, E. G. Research Interviewing: Context and narrative. USA: Harvard, 1986.
MOITA LOPES, L.P. Práticas narrativas como espaço de construção de identidades sociais: uma abordagem socioconstrucionista. In: RIBEIRO, B. T.; LIMA, C.; DANTAS, M. T. (Orgs.). Narrativa, Identidade e Clínica. Rio de Janeiro: IPUB, 2001.
NAYAR, B. Ideological Binarism in the Identities of native and non-native English speakers. In: DUSZAK, A. Us and Others. Social Identities across languages, discourses and cultures.
Amsterdam/Philadelphia: John Benjamins, 2002.
ORTON, N, E. “A questão vai além do que está no passaporte da pessoa”: desconstruindo a polarização entre os chamados ‘professor falante nativo’ e ‘professor falante não nativo’. 2014.
248f. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-graduação em Letras, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro - RJ, 2014.
PENNYCOOK, A. English and the discourses of colonialism. London: Routledge, 1998.
PHILLIPSON, R. Linguistic Imperialism. Oxford: OUP, 1992.
RAJAGOPALAN, K. Repensar o papel da linguística aplicada. In: MOITA LOPES, L. P. Por uma Linguística Aplicada Indisciplinar. São Paulo: Parábola, 2006.
TANNEN, D. “Oh talking voice that is so sweet”: constructing dialogue in conversation. In Talking voices. Repetition, dialogue and imagery in conversational discourse. Cambridge: CUP, 2007 [1989].
VIAN JR., O. O Sistema de Avaliatividade e os recursos para garadação em Língua Portuguesa: questões terminológicas e de instanciação. D.E.L.T.A. 25:1, 2009.
VIAN JR., O. O Sistema de Avaliatividade e a linguagem da avaliação. In: VIAN JR. O.; ALVES DE SOUZA, A.; ALMEIDA, F. S. D .P. (Orgs.). A linguagem da avaliação em língua portuguesa: estudos sistêmico-funcionais com base no Sistema de Avaliatividade. São Carlos, SP: Pedro & João Editores, 2011.
WHITE, P. Appraisal homepage. Disponível em: <www.grammatics.com/appraisal> [2001] 2014. Acesso em: Ago. 2014.

Downloads

Publicado

2019-08-30

Como Citar

ORTON, N. E.; NÓBREGA, A. N. A.; DE MILLER, I. K. A PERPETUAÇÃO DO BINARISMO ENTRE OS CHAMADOS “PROFESSORES FALANTES NATIVOS” E “PROFESSORES FALANTES NÃO NATIVOS” VIA O SISTEMA DE AVALIAÇÃO. Revista Linguagem em Foco, Fortaleza, v. 7, n. 1, p. 81–92, 2019. Disponível em: https://revistas.uece.br/index.php/linguagememfoco/article/view/1686. Acesso em: 28 mar. 2024.

Edição

Seção

Artigos