Algoritmos racistas no banco de imagens do Google

um estudo discursivo de plataforma

Autores

DOI:

https://doi.org/10.46230/lef.v17i3.15583

Palavras-chave:

discursos racistas, google imagens, algoritmos, antinegritude

Resumo

Os debates em torno de temas étnico-raciais têm ganhado cada vez mais força na sociedade contemporânea, ao problematizarem e combaterem comportamentos enraizados na lógica da colonialidade. Esse movimento se deve, sobretudo, à atuação dos coletivos e movimentos negros antirracistas, que se desenvolvem cotidianamente nos espaços online e offline. Nesse contexto, este trabalho busca refletir e questionar as práticas algorítmicas do Google Imagens que perpetuam o discurso racista antinegro. Para isso, recorremos aos postulados interdisciplinares da Linguística Aplicada, que permitem o diálogo com teorias de outras áreas do conhecimento, como os Estudos de Plataforma (D'Andréa, 2020) e o conceito de Antinegritude (Vargas, 2020). Em termos metodológicos, trata-se de um estudo qualitativo de caráter exploratório, fundamentado no método de estudo de caso, tendo como objeto o banco de imagens do Google, dada sua acessibilidade e ampla utilização por pessoas de diferentes faixas etárias. As buscas foram organizadas em duas categorias — estética e econômica — a partir de comandos comparativos e individuais, como “pessoas bem-sucedidas x pessoas pobres”, “mulheres lindas” e “mulher com o cabelo bonito”. Os resultados demonstram que os discursos visibilizados por meio dessas buscas ajudam a perpetuar estereótipos racistas, na medida em que os algoritmos não são neutros, permitindo que práticas sociais nocivas, outrora restritas ao ambiente analógico, sejam facilmente transpostas e amplificadas nos espaços digitais pelo alcance da internet.

 

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Biografia do Autor

Sanny Kellen Anjos Cavalcante Canuto, Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT)

Doutoranda e mestre em Linguística pelo Programa de Pós-Graduação em Linguística da Universidade do Estado de Mato Grosso (PPGL/UNEMAT), especialista em Linguística Aplicada na Educação pela Faculdade Única de Ipatinga e licenciada em Letras – Língua Portuguesa e Literatura – pela Universidade do Estado do Amazonas (UEA). Atua como professora de Língua Portuguesa na rede pública estadual de Mato Grosso, desenvolvendo projetos voltados à literatura, à escrita acadêmica e à educação antirracista. Integra o Grupo de Pesquisa CNPq Linguagem, Tecnologia e Contemporaneidade em Linguística Aplicada (LINTECLA) e é avaliadora ad hoc de periódicos científicos nas áreas de Letras, Linguística e Linguística Aplicada. Suas pesquisas concentram-se nas relações entre linguagem, identidades negras e quilombolas, racismo, antirracismo, antinegritude, branquitude e decolonialidade em contextos digitais e analógicos.

Bárbara Cristina Gallardo, Universidade do Estado de Mato Grosso (UNEMAT)

Graduada em Letras - Tradutor/Intérprete pela Universidade Ibero-Americana (1993), mestra em Letras (Inglês e Literatura Correspondente) pela Universidade Federal de Santa Catarina (2001) e doutora em Linguística Aplicada pelo IEL/ Unicamp (2013), na área de Linguagem e Tecnologia. Professora adjunta na Universidade do Estado de Mato Grosso desde 2006, com experiência na área de formação de professores de língua estrangeira. Atualmente, coordena o projeto de pesquisa "A dinâmica do ensino na era tecnológica, no Estado de Mato Grosso: contribuições da teoria ator-rede" e tem como interesses atuais de pesquisa os Letramentos Críticos Digitais, a Comunicação Transnacional Mediada por Inteligência Artificial e a Linguística Aplicada e Formação de Professores na era tecnológica. 

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Publicado

2025-12-10

Como Citar

CANUTO, S. K. A. C.; GALLARDO, B. C. Algoritmos racistas no banco de imagens do Google: um estudo discursivo de plataforma. Revista Linguagem em Foco, Fortaleza, v. 17, n. 3, p. 245–267, 2025. DOI: 10.46230/lef.v17i3.15583. Disponível em: https://revistas.uece.br/index.php/linguagememfoco/article/view/15583. Acesso em: 15 dez. 2025.