“A GALERA ENCOSTADA NA PAREDE COM A MÃO PRO ALTO E OS CARAS APLICANDO BALA DE BORRACHA” – A TENTATIVA DE RESISTÊNCIA À REPRESSÃO POLICIAL E AS CONSTRUÇÕES IDENTITÁRIAS DE UMA MANIFESTANTE DE JUNHO DE 2013

Autores

  • Etyelle Pinheiro de Araújo PUC - Rio
  • Liliana Cabral Bastos PUC - Rio
  • Liana de Andrade Biar PUC - Rio

Palavras-chave:

Análise de narrativa, Construção de identidades, Jornadas de junho

Resumo

Este artigo investiga a relação entre as identidades que uma manifestante de junho de 2013, no Rio de Janeiro, reivindica para si e os episódios de violência policial ocorridos durante os protestos. Tais episódios se iniciaram após o aumento da tarifa de transporte. Compreendemos essas manifestações como parte dos movimentos que se espalharam pelo mundo a partir de 2011, tendo a crise da representatividade como importante motivação para a indignação (CASTELLS, 2013). Nos alinhamos à Análise de Narrativa (BASTOS 2005) e à metodologia qualitativa interpretativista de pesquisa (DENZIN e LINCOLN, 2000), com uma dimensão autoetnográfica (REED-DANAHAY, 2001). Os dados foram gerados em entrevistas com uma manifestante presente no período estudado. Partindo do modelo laboviano, identificamos as narrativas e os elementos que a manifestante torna relevante nas avaliações que faz. A análise foi orientada pela visão socioconstrucionista do discurso e das identidades (MOITA LOPES, 2003). Como resultado da análise, percebemos que a manifestante reivindica identidades que a projetam numa luz favorável, como uma ativista que faz parte da ‘galera da resistência’, porque resiste e permanece nas ruas apesar da repressão policial. Destacamos, também, o conjunto de ações complicadoras que colaboram para a sua construção como heroína, uma vez que ajudou várias pessoas a escapar da repressão policial. Partindo da noção de choque moral (JASPER, 1997), observamos que essas construções identitárias são marcadas por avaliações (LABOV, 1972) que expressam como essa manifestante entende que o choque produzido pela violência policial levou ao ‘esvaziamento das ruas’, quando os protestos já não reuniam multidões.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

BASTOS, L. C. Contando estórias em contextos espontâneos e institucionais: uma introdução ao estudo da narrativa. Calidoscópio. vol. 3, n. 2, p. 74-87, 2005.
BAUMAM, Z. Identidade: entrevista a Benedetto Vecchi/ Zygmunt Baumam. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2005.
BERGER, L.; ELLIS, C. Composing autoethnographic stories. In: ANGROSINO, M. V. Doing Cultural Anthropology. Prospect Heights. IL: Waveland Press, 2002. p. 151-166.
BRUNER, J. Atos de significação. Porto Alegre: Artes Médicas, [1990] 1997.
CASTELLS, M. Redes de indignação e esperança: movimentos sociais na era da internet. Rio de Janeiro: Zahar, 2013.
DENZIN, N.; LINCOLN, Y. 2006. The discipline and practice of qualitative research. In: N.
DENZIN; Y. LINCOLN (org.) The handbook of qualitative research. Thousand Oaks: Sage, 2000, p. 1-27.
DUARTE, L. F.; GOMES, E. C. Três famílias: identidades e trajetórias transgeracionais nas classes populares. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2008.
ELLIS, C. The ethnographic I: a methodological novel about autoethnogrphy. New York, Oxford: Altamira Press, 2004.
GEE, J. P. Social linguistics and literacies. Ideology in discourses. Bristol: The Falmer Press, 1990.
GOFFMAN, E. A Representação do Eu na Vida Cotidiana. 15. ed. Petrópolis: Ed. Vozes, [1959] 2008.
JASPER, J. The Art of Moral Protest: Culture, Biography, and Creativity in social Movements. Chicago: Chicago University Press, 1997.
LEFEBVRE, H. O direito à cidade. São Paulo: Centauro, [1968] 2008.
LABOV, W. The transformation of experience in narrative syntax. In: Language in the inner city. Philadelphia: University of Pennylvania Press, 1972.
LODER, L.L. O modelo Jefferson de transcrição: convenções e debates. In: L.L. LODER; N.M.
JUNG (org.) Fala-em-interação social: introdução à análise da conversa etnometodógica. São Paulo: Mercado de Letras, 2008, p. 127-161.
MISHLER, E. G. Research Interviewing. Context and narrative. Cambridge: Harvard University Press, 1986.
MOITA LOPES, L.P. Práticas narrativas como espaço de construção das identidades sociais: uma abordagem socioconstrucionista. In: RIBEIRO, LIMA E LOPES DANTAS (orgs.). Narrativa, Identidade e Clínica. Rio de Janeiro: IPUB, 2001.___. Discurso de Identidades. Campinas, SP: Mercado das Letras, 2003.
MOVIMENTO PASSE LIVRE – São Paulo. Não começou em Salvador, não vai terminar em São Paulo. In: HARVEY, D.; MARICATO, E.; DAVIS, M; BRAGA, R. ZIZEK, S.; entre outros. Cidades Rebeldes: Passe Livre e as manifestações que tomaram as ruas do Brasil. 3. ed. São Paulo: Boitempo Editorial, 2013.
REED-DANAHAY, D. Auto/ethnography: rewriting the self and the social. Oxford, Berg, 1997.
SECCO, L. As Jornadas de Junho. In: HARVEY, D.; MARICATO, E.; DAVIS, M; BRAGA, R.
ZIZEK, S.; entre outros. Cidades Rebeldes: Passe Livre e as manifestações que tomaram as ruas do Brasil. 3. ed. São Paulo: Boitempo Editorial, 2013.
SILVA, T. T. (org.). Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis, Vozes, 2000.
WOODWARD, K. Identidade e diferença: uma introdução teórica e conceitual. In: SILVA, T. T. (org.). Identidade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis, Vozes, 2000.

Downloads

Publicado

2019-08-20

Como Citar

DE ARAÚJO, E. P.; BASTOS, L. C.; BIAR, L. de A. “A GALERA ENCOSTADA NA PAREDE COM A MÃO PRO ALTO E OS CARAS APLICANDO BALA DE BORRACHA” – A TENTATIVA DE RESISTÊNCIA À REPRESSÃO POLICIAL E AS CONSTRUÇÕES IDENTITÁRIAS DE UMA MANIFESTANTE DE JUNHO DE 2013. Revista Linguagem em Foco, Fortaleza, v. 7, n. 2, p. 11–22, 2019. Disponível em: https://revistas.uece.br/index.php/linguagememfoco/article/view/1550. Acesso em: 22 dez. 2024.