PRORROGADA Chamada para edição temática: O sono e os sonhos: saúde mental e vida social

20-02-2024

A revista Tensões Mundiais selecionará artigos para o dossiê temático “O sono e os sonhos: saúde mental e vida social”. As propostas devem ser submetidas até 25/05/2024 e irão compor a edição de número 44. O objetivo dessa edição é fomentar o debate acadêmico e/ou de movimentos sociais, com foco na abordagem interdisciplinar e relacional de conceitos tais como: sono, sonho, saúde mental e vida social.

A referida edição assume como problemática a interpretação dos elementos que condicionam a relação entre vida social e saúde mental, considerando o atual quadro de tensões que marca esta relação, assim como alternativas que contribuam para sua transformação. Nesse contexto, o sono e os sonhos revelam-se não só manifestações, mas também indicam formas de elaboração do equilíbrio ou do adoecimento mental, individual e coletivo.

Assim, o sono pode ser compreendido como a última fronteira fisiológica não colonizada pela lógica produtivista do capitalismo neoliberal (Crary, 2014). Um mundo cujo ideal de atividade laboral pode ser resumido pela fórmula 24h / 7 dias por semana, a constante compressão do tempo cronometrado por demandas cotidianas cumulativas acaba por configurar-se como uma “sociedade do cansaço” (Chul Han, 2015). As práticas ligadas ao sono (a exemplo do sonhar) vão sendo paulatinamente minadas, quantitativa e qualitativamente. Dorme-se menos tempo um sono de pior qualidade, cuja superficialidade abriga sonhos facilmente esquecidos frente ao intenso ritmo das mentes em vigília.

A relação entre sono/sonho e vida social constitui um domínio disciplinar interpretativo recente e uma contribuição absolutamente inovadora, considerando que essa temática, até muito recentemente, esteve adstrita a campos como aqueles da psicologia e da psicanálise. A proposta conceitual e metodológica de uma interpretação sociológica dos sonhos tem sido capitaneada pelo sociólogo francês Bernard Lahire, que superando as análises dos sonhos mais centradas no indivíduo e em sua psique, tem teorizado a partir da contribuição do sono e dos sonhos como elementos constitutivos e construtores de relações sociais.

Saber narrar e compartilhar os próprios sonhos representa uma característica bastante recorrente e valorizada entre grandes líderes, pajés e xamãs de diferentes povos indígenas. Por isso, nas comunidades tradicionais, saber sonhar significa não só dominar o acesso à sabedoria de antepassados, mas também antever futuros possíveis. Nas palavras de Ailton Krenak (2020, p. 37): “experiencio o sentido do sonho como instituição que prepara as pessoas para se relacionarem com o cotidiano”. Como dimensão decisiva na vida de diferentes povos ameríndios, os sonhos são concebidos como um acontecimento. Por isso, não se trata de meros simbolismos ou representações, mas de vida experimentada, como propõem Krenak, Davi Kopenawa e Hanna Limulja. Aprender com esses povos implica em conferir ao sonho o status de potente ferramenta onto-epistêmica. Esta permite superar o paradoxo sistêmico do modo de produção capitalista, o qual coloca em xeque a própria vida no planeta. Nesse sentido, o sonho na cosmovisão das comunidades tradicionais assume centralidade na construção de outros mundos possíveis. Do mesmo modo, sob uma perspectiva crítica e transdisciplinar, o sonhar funde de forma inequívoca memórias, emoções e imaginação, relativizando a aderência a realidades naturalizadas, em função da abertura a outro real.

Assim, ao aproximar as áreas de ciências humanas e da saúde para a interpretação de uma multiplicidade de sentidos que se encontra ao abrigo do sonhar, este dossiê busca selecionar artigos inéditos que subsidiem a compreensão e a intervenção nos modos de sofrimento mental coletivo, sobretudo, aqueles manifestos no recente contexto traumático configurado mundialmente pela eclosão da pandemia de COVID-19. Sendo assim, a pergunta que norteia a organização desta edição temática de Tensões Mundiais é: qual a contribuição de novas interpretações socioantropológicas do sono e dos sonhos para a saúde mental e a vida social?

Nesse sentido, Tensões Mundiais convida para participar dessa edição temática artigos que abordem os seguintes eixos:

  • Dimensão epistemológica dos sonhos na interpretação da vida social;
  • As relações entre sonho, religião e espiritualidade profética;
  • Aproximações entre a singularidade da psique individualizada e os condicionantes culturais;
  • A dimensão utópica que emerge da ligação entre arte e sonho;
  • A perspectiva antropológica e das culturas tradicionais quanto ao papel dos sonhos na vida social.

Na composição desse dossiê, serão igualmente aceitas resenhas de livros lançados nos últimos dois anos e traduções inéditas de textos clássicos acerca dos estudos sobre os sonhos e o sono, a partir de perspectivas socioantropológicas e de pensadores decoloniais.

Os trabalhos devem ser submetidos em Português, Francês, Inglês e/ou Espanhol no sistema online da revista Tensões Mundiais (disponível abaixo) até 25/05/2024.

Os arquivos submetidos para essa chamada devem ser identificados pelo código [#TMSONHO] em seu título, como também necessitam estar de acordo com as diretrizes para autores (disponíveis abaixo).

Sistema online de Tensões Mundiais:

<https://revistas.uece.br/index.php/tensoesmundiais>

Diretrizes de Tensões Mundiais para autores:

<https://revistas.uece.br/index.php/tensoesmundiais/about/submissions>.

Para contatar os coordenadores desta edição ou o comitê editorial de Tensões Mundiais, escreva seu e-mail para:

 

Kadma Marques Rodrigues: Universidade Estadual do Ceará (UECE)

Formação: Socióloga (kadma.rodrigues@uece.br)

Philippe Martin: Université Lumière Lyon 2 (Lyon 2)

Formação: Historiador (philippe.martin@univ-lyon2.fr)

Gabriel Peters: Universidade Federal de Pernambuco (UFPE)

Formação: Sociólogo (gabrielpeters@hotmail.com)