MUSEU MALVINAS E ILHAS DO ATLÂNTICO SUL:
ENTRAVES NARRATIVOS E CRÍTICA DESCOLONIAL QUARENTA ANOS APÓS O CONFLITO(1982-2022)
Schlagworte:
Malvinas, Falklands, descolonialidade, Império Britânico, América LatinaAbstract
Este artigo examina o Museu Malvinas e Ilhas do Atlântico Sul, localizado na capital argentina. A instituição busca entrelaçar aspectos físicos (biologia, geologia e questões afins) a questões humanas (geografia, história), reafirmando a tese da soberania argentina sobre o arquipélago do Atlântico Sul. Ao fazê-lo, busca tecer críticas ao imperialismo europeu, notadamente o britânico, promovendo um debate que vai além da disputa, também incorporando uma perspectiva regional (latinoamericana) sobre o tema. Contudo, argumenta-se que a narrativa adotada pelo museu portenho, ao reafirmar instrumentos eurocêntricos, como o Tratado de Tordesilhas, bem como referências nacionalistas, como heróis da independência argentina, acaba por reforçar uma narrativa europeia de dominação. Tal perspectiva ignora povos originários e grupos subalternizados, como comunidades negras das Américas. Em que pese seja evidente e necessária a crítica ao imperialismo europeu, a resposta da instituição utiliza-se de instrumentos concretos e simbólicos muito semelhantes àqueles adotados historicamente por países europeus e seus aliados. Este artigo também considera aspectos do chamado “turismo da sombra” ou dark tourism, justapondo conceitos teóricos do nicho a fim de analisar a instituição argentina. Conclui-se que o museu tem papel relevante, na medida em que traz contribuições educativas ao público geral, perdendo, contudo, a oportunidade de incorporar perspectivas inclusivas e efetivamente descoloniais.
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