MUSEU MALVINAS E ILHAS DO ATLÂNTICO SUL:

ENTRAVES NARRATIVOS E CRÍTICA DESCOLONIAL QUARENTA ANOS APÓS O CONFLITO(1982-2022)

Autores

  • João Gabriel Rabello Sodré Georgetown University

Palavras-chave:

Malvinas, Falklands, descolonialidade, Império Britânico, América Latina

Resumo

Este artigo examina o Museu Malvinas e Ilhas do Atlântico Sul, localizado na capital argentina. A instituição busca entrelaçar aspectos físicos (biologia, geologia e questões afins) a questões humanas (geografia, história), reafirmando a tese da soberania argentina sobre o arquipélago do Atlântico Sul. Ao fazê-lo, busca tecer críticas ao imperialismo europeu, notadamente o britânico, promovendo um debate que vai além da disputa, também incorporando uma perspectiva regional (latinoamericana) sobre o tema. Contudo, argumenta-se que a narrativa adotada pelo museu portenho, ao reafirmar instrumentos eurocêntricos, como o Tratado de Tordesilhas, bem como referências nacionalistas, como heróis da independência argentina, acaba por reforçar uma narrativa europeia de dominação. Tal perspectiva ignora povos originários e grupos subalternizados, como comunidades negras das Américas. Em que pese seja evidente e necessária a crítica ao imperialismo europeu, a resposta da instituição utiliza-se de instrumentos concretos e simbólicos muito semelhantes àqueles adotados historicamente por países europeus e seus aliados. Este artigo também considera aspectos do chamado “turismo da sombra” ou dark tourism, justapondo conceitos teóricos do nicho a fim de analisar a instituição argentina. Conclui-se que o museu tem papel relevante, na medida em que traz contribuições educativas ao público geral, perdendo, contudo, a oportunidade de incorporar perspectivas inclusivas e efetivamente descoloniais.

Biografia do Autor

João Gabriel Rabello Sodré, Georgetown University

Pós-doutor. Georgetown University.  ORCID: http://orcid.org/0000-0003-3821-1404. E-mail: jr1834@georgetown.edu

Referências

AHMAD, A. In theory: classes, nations, literatures. Repr ed. London: Verso, 2000.

AMAR, Paul. Insurgent African Intimacies in Pandemic Times: Deimperial Queer Logics of China’s New Global Family in Wolf Warrior 2. Feminist Studies, v. 47, n. 2, p. 419–448, 2021.

ARMITAGE, D. Three Concepts of Atlantic History. Em: ARMITAGE, D.; BRADDICK, M. J. (Eds.). The British Atlantic world, 1500-1800. Houndmills, Basingstoke, Hampshire; New York: Palgrave Macmillan, 2002. p. 13–29.

BERNARDINO-COSTA, J.; GROSFOGUEL, R. Decolonialidade e perspectiva negra. Revista Sociedade e Estado, v. 31, n. 1, p. 15–24, 2016.

CECATTO, A. A História Atlântica como possibilidade de abordagem metodológica para os estudos do Atlântico e o ensino de História da África. Temporalidades – Revista de História, v. 9, n. 1, p. 167–183, 2017.

CHAKRAVARTI, Ananya. Caste Wasn’t a British Construct – and Anyone Who Studies History Should Know That. The Wire, 2019. Disponível em: <https://thewire.in/caste/caste-history-postcolonial-studies>. Acesso em: 14 jun. 2022.

CHARLEAUX, J. P. Como Barbados se tornou a mais nova república do mundo. Nexo, 30 nov. 2021. https://www.nexojornal.com.br/expresso/2021/11/30/Como-Barbados-se-tornou-a-mais-nova-rep%C3%BAblica-do-mundo; Acesso em 19 de maio de 2022.

CINTRA, J. P. O mapa das cortes e as fronteiras do Brasil. Boletim de Ciências Geodésicas, v. 18, n. 3, p. 421–445, 2012.

CUSICANQUI, S. R. Ch’ixinakaxutxiwa : A Reflection on the Practices and Discourses of Decolonization. South Atlantic Quarterly, v. 111, n. 1, p. 95–109, 1 jan. 2012.

DANN, G. M. S.; SEATON, A. V. Slavery, Contested Heritage and Thanatourism. International Journal of Hospitality & Tourism Administration, v. 2, n. 3–4, p. 1–29, 23 out. 2001.

EDWARDS, E. D. Hiding in plain sight: Black women, the law, and the making of a white Argentine Republic. Tuscaloosa: The University of Alabama Press, 2020.

FOLEY, M.; LENNON, J. J. JFK and dark tourism: A fascination with assassination. International Journal of Heritage Studies, v. 2, n. 4, p. 198–211, dez. 1996.

FORSDICK, C. The Oxford Handbook of Postcolonial Studies. Em: HUGGAN, G. (Ed.). .Postcolonializing the Americas. Oxford: Oxford University Press, 2013. p. 648–668.

FRAGOSO, J.; GUEDES, R.; KRAUSE, T. A América portuguesa e os sistemas atlânticos na Época Moderna: Monarquia pluricontinental e Antigo Regime. Rio de Janeiro: Editora FGV, 2013.

GONÇALVES, A. F. S. Dark Tourism – O lado sombrio do turismo: Aplicação à cidade do Porto. Dissertação de Mestrado —Porto, Portugal: Instituto Politécnico do Porto, 2017.

GRINBERG, K. Fronteiras, escravidão e liberdade no sul da América. Em: As fronteiras da escravidão e da liberdade no sul da América. Rio de Janeiro: 7 Letras, 2013. p. 7–24.

GURIDY, F.; HOOKER, J. Currents in Afro-Latin American Political and Social Thought. Em: DE LA FUENTE, A.; ANDREWS, G. R. (Eds.). Afro-Latin American Studies: An Introduction. Cambridge: Cambridge University Press, 2018. p. 222–264.

JACKSON, G. The British whaling trade. St. John’s, Nfld: International Maritime Economic History Association, 2005.

KRISJANOUS, J. An exploratory multimodal discourse analysis of dark tourism websites: Communicating issues around contested sites. Journal of Destination Marketing & Management, v. 5, n. 4, p. 341–350, dez. 2016.

MIGNOLO, W.; WALSH, C. E. On decoloniality: concepts, analytics, praxis. Durham: Duke University Press, 2018.

PEREIRA, T. Motivações para a prática do dark tourism. ACENO - Revista de Antropologia do Centro-Oeste, v. 7, n. 14, p. 215–230, 22 dez. 2020.

RABELLO SODRÉ, J. G. Espaços Subalternos e Imaginários Diaspóricos no Cais do Valongo. Em: PURIFICAÇÃO, M. M.; CATARINO, E. M.; OLIVEIRA, P. M. P. DE (Eds.). Antropologia e crítica social: visão crítica da realidade sociocultural. Ponta Grossa: Atena, 2021.

ROJEK, C. Ways of escape: modern transformations in leisure and travel. Basingstoke: Macmillan, 1993.

SANTOS, B. DE S. Uma concepção multicultural de direitos humanos. Lua Nova: Revista de Cultura e Política, v. 39, 1997. https://doi.org/10.1590/S0102-64451997000100007; Acesso em 23 de maio de 2022.

VASSALLO, S.; CICALO, A. Por onde os africanos chegaram: o Cais do Valongo e a institucionalização da memória do tráfico negreiro na região portuária do Rio de Janeiro. Horizontes Antropológicos, v. 21, n. 43, p. 239–271, jun. 2015.

VOYLES, T. B. Wastelanding: Legacies of Uranium Mining in Navajo Country. Minneapolis: University of Minnesota Press, 2015.

WOLF, E. R. A Europa e os povos sem história. São Paulo: EDUSP, 2005.

Publicado

2023-08-21

Como Citar

RABELLO SODRÉ, J. G. MUSEU MALVINAS E ILHAS DO ATLÂNTICO SUL: : ENTRAVES NARRATIVOS E CRÍTICA DESCOLONIAL QUARENTA ANOS APÓS O CONFLITO(1982-2022). Revista de História Bilros: História(s), Sociedade(s) e Cultura(s), [S. l.], v. 10, n. 20, p. 19, 2023. Disponível em: https://revistas.uece.br/index.php/bilros/article/view/11277. Acesso em: 15 maio. 2024.

Edição

Seção

ARTIGOS