O mito da Terra Sem Mal e os Tupinambá
DOI:
https://doi.org/10.52521/kg.v22i3.16164Palavras-chave:
Terra Sem Mal, Pensamento Tupinambá, Migrações indígenas, ColonizaçãoResumo
Em diálogo com autores recentes e com base numa leitura das crônicas dos séculos XVI e XVII, o artigo apresenta uma reflexão crítica da postulação, por Alfred Métraux, Pierre Clastres e Hélène Clastres da existência de uma narrativa (mito) da Terra Sem Mal entre os antigos Tupinambá. Nisso, desenvolve uma crítica às teses clastrianas em três níveis: metodológica, histórica e política. Trata-se, primeiramente, de mostrar que os Clastres se mantêm metodologicamente numa orientação essencialista e anti-histórica, possibilitada por Curt Nimuendaju (1914) e inaugurada por Alfred Métraux (1928), trilha que unifica antropologicamente o conjunto dos Tupi-Guarani, desprezando as especificidades etnológicas e históricas de seus diversos povos. Em seguida, argumenta que são historicamente infundadas suas teses básicas, a saber, a do confronto entre morubixaba e pajé/karaíba, como expressões do conflito entre o religioso e o político, a sociedade e o Estado em vias de aparecer. Por fim, opõe-se à tese de que as migrações dos Tupinambá nos séculos XVI e XVII ocorrem a despeito da Ocupação Colonial, pois seriam movidas pelo conflito interno às comunidades tupinambá (sociedade versus Estado), do que resultaria a procura da assim chamada Terra Sem Mal. Enfim, trata-se neste artigo de demarcar um campo do Pensamento Tupinambá, sua relação com a morte e com os mortos (fundamental à sua cosmologia fisicalista), e reinscrever as migrações tupinambá dos séculos XVI e XVII no cenário de resistência antiescravista e anticolonial dos povos nativos.
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