Desressentindo...generosidade e gratidão como boa vingança
Palabras clave:
Pena. Vingança. Ressentimento. Afirmação da vidaResumen
Sentir pena (commiseratio) é vivenciar uma tristeza acompanhada da idéia de um mal sofrido por um outro que imaginamos ser nosso semelhante (EIII DefAf). É um ‘sofrer com’ (Mitleid), sempre sinônimo de uma forma de fraqueza. As vozes de Spinoza e Nietzsche coincidem ao denunciar que a pena não é uma virtude. Foi por sentir pena dos homens que deus morreu (AZ II 25). Foi por ver os abismos dos homens que deus sofreu com a própria morte a vingança perpetrada pelo homem (AZ IV 67). Para agir e tentar afirmar finalmente sua própria vida, o homem teve que matar deus. Não obstante, o espírito de vingança define-se como sendo exclusivamente retaliador e envolve o risco de permanecer subordinado ao objeto que procura rechaçar (GM II 11). Dirigido a deus ou à vida como um todo, o sentimento de vingança é uma impotente negação da existência – quando sublimado ou espiritualizado este sentimento se converte em ressentimento. O homem de espírito ressentido é aquele que considera a sua impotência de agir e de reverter o mal a ele causado uma prova de sua bondade. O ressentido se orgulha, assim, por sofrer com equanimidade. Em repúdio à nefasta celebração da vida como martírio, Nietzsche e Spinoza mostram-nos que a criação de um viver como pura afirmação reside no entendimento ativo de que tudo o que há é fruto da necessidade. Amor fati e amor dei são ambos antídotos contra a pena, a vingança e o ressentimento estéril – são formas de vida rara e dificilmente conquistadas por aqueles que afirmam-se em potência e liberdade. Diante do sofrimento e do ódio, a pessoa guiada pela razão é movida pela generosidade (EV P10 Esc). A vida abraçada em sua totalidade inspira à atitude de gratidão. Do mais alto sentimento de felicidade e potência, a gratidão traduz-se como “boa vingança” (KSA 9, 79). Traçar laços produtivos entre, por um lado, os conceitos nietzscheanos de gratidão, amor fati, ressentimento, vingança e pena, e, por outro, as noções spinozanas de generosidade, amor dei e comiseração é o exercício ao qual me dedico neste artigo.
Abstract
To feel pity (commiseratio) is to experience sadness accompanied by the idea of an evil which has happened to another whom we imagine to be like us (EIII DefAf 18). It is a ‘suffering with’ (Mitleid), which is always synonymous with a form of weakness. The voices of Spinoza and Nietzsche coincide in denouncing that pity is not a virtue as it does not enhance our power. God died of pity of men (AZ II 25). God’s love for men was her hell – a saddening and compassionate love which annihilated her forces. The pity God felt for men intensified human inferiority and paralysed her creatures. In order to act and try to finally affirm their own life, men killed God. Nevertheless, the spirit of revenge is defined as always reactive and involves the risk of remaining subordinate to the object it intends to negate (GM II 11). Directed toward God or life as a whole, the sentiment of revenge is an impotent denial of existence – when sublimated or spiritualised it is converted into resentment. The person with a resented spirit is one who considers her impotence of acting a proof of her goodness. The resented person is proud of suffering with equanimity. In repudiation of life as martyrdom, Nietzsche and Spinoza show us that the pure affirmation of existence resides in the active understanding of necessity. Amor fati and amor dei are both antidotes against pity, revenge and resentment – they are rare and difficult forms of life conquered by those who affirm their power of thinking and hence their liberty. In response to suffering and hate, those who are guided by reason are moved by generosity (EV P10 Esc). When embraced in its totality, life inspires us to an attitude of gratitude. From the highest sentiment of joy and power, gratitude is translated as “good revenge” (KSA 9, 79). My objective in this article is to draw fruitful connections between the Nietzschean concepts of gratitude, amor fati, resentment, revenge and pity on the one hand, and the Spinozist notions of generosity, amor dei and commiseration on the other.
Key-words: Pity. Revenge. Resentment. Life affirmation.