A IMPOSSIBILIDADE DO TESTEMUNHO E O LIMITE ÉTICO EM GIORGIO AGAMBEN

Autores

  • Paloma Custódio Soares

Palavras-chave:

testemunho, campo, ética, muçulmano

Resumo

Este trabalho tem como objetivo compreender a impossibilidade do testemunho e o limite ético nos campos de concentração a partir da obra “O que resta de
Auschwitz” de Giorgio Agamben. Nesse artigo iremos trabalhar o conceito de testemunho enquanto sobrevivente do campo. É por meio dele que Agamben almeja descrever a lacuna que existe entre a testemunha sobrevivente e a testemunha integral dos campos de concentração nazistas, isto é, aqueles que sucumbiram à experiência. Tal
lacuna torna-se a própria impossibilidade de relatar os fatos ocorridos dentro do campo, pois a testemunha integral são os mulçumanos, os indivíduos que viveram o horror do em sua totalidade, e por isso, incapazes de testemunhar. A possibilidade de o sobrevivente falar, implica no fato de que não atravessaram a verdadeira experiência do campo. Porém, são eles os únicos capazes de testemunhar no lugar das verdadeiras testemunhas do campo, aqueles que vivenciaram o horror em sua plenitude. Em função disso, a experiência limite do campo acarreta no fim do princípio ético que provém da ordem jurídica suplantada pelo Estado de exceção. O poder de vida e morte que o soberano detém de seus súditos é expresso no campo de maneira inequívoca. A vida nua no campo é a experiência limite pela qual o muçulmano (o Homo Sacer do campo) atravessa como forma de manutenção da ordem e dos princípios éticos e morais do status quo. Por isso, o limite do ético encontra seu fim na figura do muçulmano. Ou melhor, só podemos falar de ética se incluirmos no seu núcleo a figura desumanizada do muçulmano. Ocorre a partir dele, pois dele é retirado qualquer traço de humanidade, e transformado em inumano. Por fim, buscamos concluir apontando a relação entre o testemunho e o limite ético dentro do campo, evidenciando o testemunho como forma de radicalizar e, com isso, solucionar o impasse da ética no interior do campo.

Downloads

Não há dados estatísticos.

Referências

AGAMBEN, G. O que resta de Auschwitz. 1ª edição. São Paulo: Boitempo, 2008.

______. Homo Sacer: O poder soberano e a vida nua I. 2ª edição. Belo Horizonte:

Editora UFMG, 2014.

______. Estado de Exceção: Homo Sacer, II, I. 2ª edição. São Paulo: Boitempo, 2004.

ALMEIDA, L. A reinvenção da palavra necessária, uma apresentação do filme Shoah

de Claude Lanzmann. Revista Fênix, v. 3, n. 1, jan./fev./mar. de 2006.

LEVI, P. Os afogados e os sobreviventes. 2ª edição. São Paulo: Paz e Terra, 2004.

CASTRO, E. Introdução a Giorgio Agamben: Uma arqueologia da potência. 1ª edição.

Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2012.

GIACOIA, O. Agamben: Por uma ética da vergonha e do resto. 1ªedição. São Paulo: n1

edições, 2018.

Downloads

Publicado

2021-07-05

Como Citar

CUSTÓDIO SOARES, P. . A IMPOSSIBILIDADE DO TESTEMUNHO E O LIMITE ÉTICO EM GIORGIO AGAMBEN. Polymatheia - Revista de Filosofia, [S. l.], v. 12, n. 20, 2021. Disponível em: https://revistas.uece.br/index.php/revistapolymatheia/article/view/5783. Acesso em: 7 nov. 2024.

Edição

Seção

Artigos