Exu e o imaginário sociológico da cultura
DOI:
https://doi.org/10.52521/opp.v22n47.12245Palavras-chave:
Exu, Sociologia, Cultura, AnticolonialResumo
Este artigo apresenta e problematiza algumas questões levantadas pela exposição Festa, baia, gira, cura, do antropólogo e artista Jean dos Anjos, em Fortaleza, junto ao Centro Cultural Dragão do Mar onde foi instalado um painel com a frase Exu te ama. A exposição foi objeto de debate social e político local e nacional, causando desconforto nos setores conservadores da sociedade, que questionaram o evento artístico e demandaram a retirada da frase. Com base nas proposições e efeitos sociais da exposição, o artigo traça uma reflexão sobre a pertinência de uma teoria anticolonial e nativa da cultura, na Sociologia, que considere os conceitos endógenos como possibilidade explicativa dos fenômenos, tomando Exu como artefato epistêmico de provocação do imaginário sociológico da cultura. O debate anticolonial, nos seus diferentes formatos, é mobilizado neste artigo como elemento crítico para pensar a Sociologia da Cultura no Sul global, tomando as epistemes anticoloniais como instrumento de um debate sociológico emergente e necessário no confronto com uma Sociologia global e local marcadamente eurocentrada.
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