Entrar e permanecer na prisão
reflexões autoetnográficas do trabalho na segurança prisional
DOI:
https://doi.org/10.52521/21.10596Palavras-chave:
Prisão, Polícia Penal, Autoetnografia, Identidade profissionalResumo
Objetivo deste artigo é discutir as relações e emoções cotidianas implicadas no trabalho da segurança prisional. A discussão está pautada em uma narrativa autoetnográfica produzida a partir da atuação dos autores como policiais penais e pesquisadores em cadeias públicas e penitenciárias do sistema prisional cearense ao longo da última década. O texto foca nas relações e emoções constituídas no cotidiano carcerário que estão diretamente conectadas às condições das prisões, aos processos de trabalho e as suas interferências na vida dos profissionais. As transformações na política prisional, em diferentes momentos e contextos, contornam não apenas as relações constituídas entre prisioneiros e profissionais, mas a própria dinâmica de trabalho dos policiais penais cearenses.
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