Acerca do atributo e sua definição em Espinosa
Resumo
A noção de atributo é objeto de questões por parte dos interlocutores de Espinosa, e de expressivas divergências entre seus comentadores. Estas, por sua vez, contextualizam-se no seio da discussão relativa ao monismo espinosano, visto que, segundo Espinosa, ao tempo em que Deus compreende substância única, além da qual nada pode existir nem ser concebido, Ele consiste de uma infinidade de atributos, cada um dos quais é infinitamente perfeito em seu gênero. Assim, é preciso explicar qual a relação entre Deus e seus atributos, ou, em outras palavras, como conciliar o uno (Deus) e o múltiplo ou diverso (atributos). Na tentativa de assumir essa empreitada, surgem, de modo geral, duas interpretações divergentes, as quais corroboram e fundamentam as suas posições na definição de atributo que Espinosa oferece na Ética. Enfatizando a intervenção do intelecto em tal enunciado, surge a primeira das interpretações, dita subjetivista, a qual sustenta que os atributos compreendem representações diversas operadas pelo intelecto, na medida em que este concebe a substância, a qual, em si mesma, permanece una e indivisível. Por sua vez, a segunda interpretação, dita objetivista, ao tempo em que evidencia a incompatibilidade da interpretação subjetivista, com vistas a outros aspectos do sistema espinosano, sustenta que os atributos existem objetivamente, como constituintes da essência da substância divina, fora do intelecto, o qual intervém na referida definição para constatar a inteligibilidade de Deus. No presente artigo, assim, propomos apresentar a clássica querela dos atributos, sob as perspectivas das correntes interpretativas subjetivista e objetivista, partindo da análise semântico-gramatical da definição de atributo da Ética. Longe de propormos apresentar uma resolução para a questão referida acima, quanto ao monismo espinosano, propomos evidenciar o seu contexto e a sua complexidade.
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