“Não é do poder do Príncipe examinar os segredos da alma”

Críticas aos regimes teológico-políticos ibéricos e defesa da liberdade de pensamento e de crença em Baruch de Spinoza e Manuel Fernandes de Vila Real

Autores

  • Hannah de Gregorio Leão Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro - PUC-RIO

DOI:

https://doi.org/10.52521/conatus.v16i27.13445

Palavras-chave:

Liberdade de pensamento e de crença. Baruch de Spinoza. Manuel Fernandes de Vila Real. Tratado Teológico-Político. Inquisição de Lisboa.

Resumo

O presente artigo possui o objetivo de analisar as convergências e divergências sobre a defesa da liberdade de pensamento e de crença por Manuel Fernandes de Vila Real e Baruch de Spinoza, ambos com histórico familiar sefardita e críticos dos regimes teológico-políticos ibéricos. Em um primeiro momento, será abordada a influência do marranismo em Spinoza a partir de Uriel da Costa e Juan de Prado. Posteriormente, analisar-se-á o caso de Manuel Fernandes de Vila Real, cristão-novo e diplomata extraoficial de D. João IV, atuando na França, que foi processado e morto pela Inquisição de Lisboa em 1652. Vila Real, em sua obra “El Político Cristianíssimo”, critica a Inquisição e a superstição, defendendo que a liberdade de crença dos súditos não é prejudicial para a estabilidade do reino, o que evidencia interessantes ressonâncias com a defesa da liberdade de pensamento e a crítica ao teológico-político feita por Spinoza no “Tratado Teológico-Político”.

Referências

ABREU, Ilda Soares de. Manuel Fernandes de Vila Real: vida e morte pela causa da Restauração. Promontoria, Ano 6, Número 6, 2008, p. 281-289.

ALBIAC, Gabriel. La Sinagoga Vacía: un estudio de las fuentes marranas del espinosismo. 3. reimpresión. Madrid: Tecnos, 2018.

AZEVEDO, J. Lúcio de. História dos cristãos-novos portugueses. 3. edição. Lisboa: Clássica Editora 1989.

BODIAN, Miriam. The Geography of Conscience: A Seventeenth-Century Atlantic Jew and the Inquisition. The Journal of Modern History, 89, June 2017, 247–281.

CHAUÍ, Marilena. A Nervura do Real: imanência e liberdade em Espinosa. 4. reimpressão. São Paulo: Companhia das Letras, 1999.

COSTA, Uriel da. Espejo de una vida humana. Edición crítica de Gabriel Albiac. Madrid: Hiperión, 1985.

COSTA, Uriel da. Examintation of Pharisaic Traditions. Leiden: E. J. Brill, 1993.

GEBHARDT, Carl. Spinoza. Buenos Aires: Losada, 2007.

GOMES, Pinharanda. A Filosofia Hebraico-Portuguesa – I. Porto: Lello & Irmão – Editores, 1981.

GOMEZ, Antonio Henriquez. Política Angélica. Primeira Parte. Roan: L. Maurry: 1647.

GUIMARAENS, Francisco de; ROCHA, Maurício. Spinoza e o Direito de Resistência. Seqüência (Florianópolis), n. 69, p. 183-214, dez. 2014.

INTT. Processo de Manuel Fernandes de Vila Real. PT/TT/TSO-IL/028/07794 Disponível em: <https://digitarq.arquivos.pt/details?id=2307881>. Acesso em: 10/04/2024.

ISRAEL, Jonathan I. Enlightenment Contested: Philosophy, Modernity, and the Emancipation of Man 1670-1752. New York: Oxford University Press, 2006.

ISRAEL, Jonathan I. King Philip II of Spain as a symbol of ‘Tyranny’ in Spinoza’s Political Writings. Revista Co-herencia, Vol. 15, No 28 Enero - Junio de 2018, pp. 137-154.

ISRAEL, Jonathan I. Revolutionary Jews from Spinoza to Marx: The Fight for a Secular World of Universal and Equal Rights. Seattle: University of Washington Press, 2021.

ISRAEL, Jonathan I. Spinoza, Life and Legacy. Oxford: Oxford University Press, 2023.

KAPLAN, Yosef. Do cristianismo ao judaísmo: a história de Isaac Oróbio de Castro. Rio de Janeiro: Imago 2000.

MATTOS, Yllan de. A Inquisição Contestada: críticos e críticas ao Santo Ofício português (1605-1681). Rio de Janeiro: Mauad & FAPERJ, 2014.

RAMOS-COELHO. Manuel Fernandes Villa Real e o seu processo na Inquisição de Lisboa. Lisboa: Empreza do “Occidente”, 1894.

RÉVAH, Israel Salvatore. Un pamphlet contre l'Inquisition d'Antonio Enriquez Gómez: la seconde partie de la «Política Angélica» (Rouen, 1647). Revue des études juives, Année 1962, 121-1-2, pp. 81-168.

RÉVAH, Israel Salvatore. Des marranes a Spinoza. Paris: Librairie Philosophique J. Vrin., 1995

RÉVAH, Israel Salvatore. Spinoza et le Dr Juan de Prado. Paris, La Haye: Mouton & Co, 1959.

SHWARTZ, Stuart B. Cada um na sua lei: tolerância religiosa e salvação no mundo atlântico ibérico. São Paulo: Companhia das Letras; Bauru: EDUSC, 2009.

SILVA, Daniel Santos da. Conflito e Resistência na filosofia política de Espinosa. Campinas: Editora da Unicamp, 2020.

SILVA, Inocêncio Francisco da. Dicionário Bibliográfico Português. Tomo XVI. Lisboa: Imprensa Nacional, 1858.

SPINOZA, Baruch de. Tratado Teológico-Político. 4. edição. Lisboa: Imprensa Nacional, 2019.

TORGAL, Luís Reis. Ideologia Política e Teoria do Estado na Restauração – volume 2. Coimbra: Biblioteca Geral da Universidade, 1981.

TORGAL, Luís Reis. Vigias da Inquisição. Lisboa: Temas e Debates, 2024.

VILLA REAL, Capitán F. de. El Político Cristianíssimo o discursos políticos sobre algunas acciones de la Vida del Eminentíssimo señor Cardenal duque de Richelieu. Pamplona: Iuan Antonio Berdun, 1642.

WILKE, Carsten L. Manuel Fernandes Vila Real at the Portuguese Embassy in Paris, 1644–1649: New Documents and Insights. Journal of Levantine Studies. Vol. 6, Summer/Winter 2016, pp. 153-176.

WOLF, A. (ed). The Correspondence of Spinoza. New York: Lincoln Mac Veagh, 1947.

YOVEL, Yirmiyahu. Spinoza and Other Heretics: The Marrano of Reason. Oxford: Princeton University Press, 1989.

Arquivos adicionais

Publicado

28-01-2025

Como Citar

Leão, H. de G. (2025). “Não é do poder do Príncipe examinar os segredos da alma”: Críticas aos regimes teológico-políticos ibéricos e defesa da liberdade de pensamento e de crença em Baruch de Spinoza e Manuel Fernandes de Vila Real. Revista Conatus - Filosofia De Spinoza (ISSN 1981-7509), 16(27), 83–94. https://doi.org/10.52521/conatus.v16i27.13445