A felicidade na compreensão de Benedictus de Spinoza:
da servidão à liberdade uma passagem da passividade para a atividade
DOI:
https://doi.org/10.52521/conatus.v16i27.13196Palavras-chave:
Spinoza. Afetos. Felicidade. Liberdade. Servidão.Resumo
Benedictus de Spinoza (1632-1677), filósofo holandês, ao escrever sua Ética Demonstrada Segundo a Ordem Geométrica (Ethica Ordine Geometrico Demonstrata), obra que será nosso arcabouço teórico, rompe com a tradição filosófica por diversas vezes. Uma destas rupturas é anunciada no axioma 3 da parte II, quando os afetos do ânimo são categorizados como modos de pensar (E2Ax3). Porém, é a parte III que ele dedica à natureza e à virtude dos afetos (affectus), sendo a sua definição uma das mais significativas para a compreensão da natureza humana. Assim, afeto é compreendido por Spinoza como as afecções (affectio) do corpo que aumentam ou estimulam, diminuem ou refreiam sua potência de agir e, ao mesmo tempo, as ideias dessas afecções (E3Def3). Estes afetos podem ser ativos e passivos (E3Def3Exp). Os afetos passivos são as paixões quando somos causa adequada de nossas afecções, enquanto os afetos ativos são as ações, quando somos causa adequada das afecções. Quando os afetos estão relacionados com a imaginação, primeiro gênero de conhecimento, segundo Spinoza, eles são as paixões. Estas fazem com que sejamos causa inadequada de nossos desejos, pois somos apenas parcialmente causa daquilo que sentimos, fazemos e desejamos, o que nos leva à servidão. O conceito de servidão é entendido como a impotência humana de regular e refrear a força dos afetos, de modo que o homem submetido a ela não domina a si mesmo, ficando à mercê da Fortuna. Assim, constatada a naturalidade dos afetos e sua inevitabilidade, como podemos ser causa adequada, mais potentes? Resumidamente, podemos constatar, com Spinoza, que nós podemos deixar de viver sob o domínio das paixões e se afastar da servidão a partir do conhecimento da rede causal dos afetos, encontrando meios para evitar as paixões tristes, buscando as paixões alegres e o afeto desejo, alcançando, assim, a tão almejada felicidade. Concluímos que a nossa tarefa é nos esforçarmos para ser essa causa adequada que eleva nossa potência e fortalece nosso conatus, por conhecer as causas das quais somos determinados a agir, e dessa forma, possamos ser felizes.
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