Política agrária e desdemocratização nos governos Temer e Bolsonaro

Autores

  • Marcos Paulo Campos Doutor em Sociologia pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ e Professor da Universidade Estadual Vale do Acaraú - UVA

DOI:

https://doi.org/10.32335/2238-0426.2023.13.31.10780

Palavras-chave:

política agrária, desdemocratização, estudantes brasileiros em Portugal

Resumo

Este artigo analisa a política agrária dos governos Temer e Bolsonaro no Brasil. As modificações promovidas por esses mandatários na ação do Estado no campo implicaram redução da política de acesso à terra, dos projetos de desenvolvimento dos assentamentos rurais, dos programas de fortalecimento da agricultura familiar e das políticas de barateamento e estabilização de preços de alimentos no mercado interno. Ao mesmo tempo, esse período também significou a ampliação da titulação dos assentamentos, o crescimento do mercado de terras, a continuidade do favorecimento da agroexportação e a expansão (legal e ilegal) da fronteira agrícola na Amazônia. As principais fontes de dados deste artigo são o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), os relatórios Conflitos no Campo, da Comissão Pastoral da Terra (CPT) e noticiários nacionais. Isso se soma à análise de conteúdo dos documentos governamentais e partidários, ao acompanhamento de notícias em periódicos nacionais, à estatística descritiva e à leitura de analistas da questão agrária, da conjuntura política e da democracia contemporânea. As conclusões analíticas indicam que a política agrária nos governos Temer e Bolsonaro significou um profundo e continuado processo de desmonte de capacidades de Estado construídas a curto, médio e longo prazos na ação do Estado para o campo.

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Publicado

2023-08-07

Como Citar

Campos, M. P. (2023). Política agrária e desdemocratização nos governos Temer e Bolsonaro. Conhecer: Debate Entre O Público E O Privado, 13(31), 40–62. https://doi.org/10.32335/2238-0426.2023.13.31.10780

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