Etnografia arriscada
o pesquisador diante de uma rebelião no internato para adolescentes
Palavras-chave:
Adolescentes em conflito com a lei, Etnografia Arriscada, Privação de liberdade, RebeliãoResumo
Segundo Geertz "não há tarefa melhor para um estudioso do que destruir um medo" (2001). Contudo, vivenciar situações onde o limite do medo é testado não estava previsto na pesquisa de mestrado em sociologia/ UFC, intitulada: “Códigos de honra: o cotidiano de jovens internos no Centro Educacional São Miguel”. Por outro lado, etnografar a dinâmica e o cotidiano de um internato – Unidade de Internação da extinta Fundação do BemEstar do Menor no Ceará – FEBEMCE, possibilitou vivenciar uma experiência inusitada, a exemplo dos “imponderáveis” (1976) descritos por Malinowski, substanciada na inesperada imersão em uma rebelião prisional. No pátio do internato, o enfrentamento entre grupos rivais deixara várias vítimas pelo chão, as quais vomitavam uma secreção esverdeada: sangue, fraturas expostas, cabeças sangrando e os questionamentos da pesquisadora que, também, recebeu pedradas e adquiriu hematomas durante a rebelião. Da experiência surgiram reflexões e questionamentos: por que a decisão de suportar tantos medos, riscos e temores? O que significa e/ou significou a experiência da chamada “etnografia arriscada” nesse percurso analítico? O que fazer diante do caos, da violência extrema e barbárie? Eis, aí, os fios e rastros a serem tecidos nesta investigação.