Chamada de artigos para Dossiê RELIGIÃO, MORALIDADES e ESPAÇO PÚBLICO

2025-01-09

O campo de estudo da Sociologia, em particular, e das Ciências Humanas, em geral, é o mundo vivido pelos sujeitos, ao qual nomeou-se como “sociedade”. Dentro deste vasto campo de pesquisa, dois “objetos” se apresentaram desde os primórdios da Sociologia em construção e nascente ainda no século XIX: a religião (entendida ali ainda no singular) e a moral. Desde os “clássicos” (de Durkheim a Weber, passando por Simmel e Martineau) até os “contemporâneos” (Bourdieu, Giddens, Berger, Hervieu- Lèger, Camurça, Vital da Cunha, Montero dentre outros) apontaram/apontam a importância, para a compreensão da vida social, do estudo profundo das relações estabelecidas entre a vida social, a produção de moralidades (que conduzem e orientam o mundo onde os sujeitos “vivem” e estabelecem as relações interpessoais e, portanto, “sociais”) e o lugar/espaço/função/valor das religiões. Tais relações, que se estabelecem no espaço público, remetem às práticas e aos sentidos que os sujeitos religiosos elaboram com o mundo a seu redor, seja por meio de tensões, acomodações, rupturas, colaboração, ortodoxia, heterodoxia dentre outras possibilidades. Nesse sentido, existem distintas moralidades que subjazem as visões de mundo religiosas e influem sobre as práticas sociais. Embora a ideia de virtudes como caridade e perdão sejam importantes na visão religiosa hegemônica - catolicismo e evangélicos - a moralidade cristã passa por substanciais mudanças desde a ascensão das teologias da prosperidade. A moral do empreendedor, a moral libertária e a moral neoliberal adquirem importância no campo de ação do cristianismo, para falarmos da cosmovisão hegemônica no Brasil, e associa-se a uma visão de mundo que diverge substancialmente do campo afro-brasileiro, e demais campos religiosos ou cosmológicos não-hegemônicos (orientais, tradicionais, étnicos/indígenas, dentre outros). É também no espaço público que essas moralidades, se entendidas como o campo de ação prático das religiões, se dão, são exercidas e se enfrentam com outras ordens de ação, tidas – no senso comum - como “mundana”, mas que aqui podemos nomear como laicas e secularizadas: a mídia, o mercado e o Estado. Por vezes, há afinidades, por vezes há tensões entre essas ordens e moralidades, em variados graus de articulação. Das escolas e universidades, passando pelas eleições locais e nacionais, os conselhos profissionais, a sexualidade e os novos e tradicionais arranjos familiares, as forças de segurança e a produção audiovisual, dentre outros universos: tudo tem passado pela dinâmica de disputas entre moralidades e religiões, tendo como objetivo a formatação de um outro, ou novo, espalho público. A proposta do dossiê, assim, é acolher trabalhos empíricos e/ou teóricos, no campo amplo das Ciências Sociais (Sociologia, Antropologia, Ciência Política) e das áreas correlatas (Educação, Direito, Linguística, Artes, Ciências da Religião etc), que versem sobre as diversas relações que se estabelecem no mundo contemporâneo entre as religiões (com suas cosmovisões), as moralidades e o espaço público, com ênfase nas disputas que se estabelecem neste espaço público entre aquelas (religiões e moralidades). O dossiê acolherá, portanto, textos teóricos (conceituais, analíticos, revisão de literatura), textos elaborados a partir de trabalhos de campo em seu variado espectro (etnografias, observação participante, estudos de caso, surveys etc.) que estejam no campo das Ciências Sociais e Humanas em sua variadíssima extensão, com destaque para a Sociologia.

Prazos da submissão:
Prazo final de submissão de textos no dossiê: 15/03/2025

Editor responsável:

Francisco Elionardo de Melo Nascimento (PPGS/UECE)

Organizadores:

Emanuel Freitas da Silva (PPGS/UECE)

Emerson José Sena da Silveira (PPCIR- UFJF)