O Guarani

mito de fundação da brasilidade

Autores

DOI:

https://doi.org/10.52521/21.8403

Palavras-chave:

O Guarani, Romantismo, José de Alencar, Cultura Popular, Mito Fundador, Nação

Resumo

José de Alencar escreve “O Guarani” como uma representação fictícia, recheada com o maior número de informações para tornar crível uma intenção desesperada. Índios, florestas, animais selvagens – o cenário da romantização europeia era um excesso, sua presença asfixiante nos esmagava. Diz-se frequentemente que o indianismo de José de Alencar tentou eliminar esse incômodo. Mas será que ele enxerga apenas um índio idealizado, despido de suas qualidades reais? Creio que não. Lendo o romance com atenção, percebemos que as coisas são mais complexas. O nascimento do Brasil não é simplesmente o cruzamento da cultura com a natureza, mas de uma determinada cultura com uma natureza domesticada. A dúvida de Alencar é como introduzir a civilização num domínio que lhe é estranho, problemática radicalmente distinta daquela descrita pelo Romantismo europeu. "O Guarani", como os mitos primitivos, encontra na figura do incesto (união fraternal de Ceci e Peri) o artifício para a fecundação de uma nova ordem, mas ele é sobretudo um romance das águas, onde a imagem de lavagem das impurezas, permeia a narrativa do início ao seu término.

Biografia do Autor

Renato Ortiz, Universidade Estadual de Campinas (Unicamp)

Professor permanente do Programa de Pós-Graduação de Sociologia da Unicamp. Possui graduação em Sociologie - Universite de Paris VIII (1972), mestrado em Sociologia- École des Hautes Études en Sciences Sociales (1972) e doutorado em Sociologia/Antropologia- École des Hautes Études en Sciences Sociales (1975). Atualmente é professor titular da Universidade Estadual de Campinas. Alguns livros publicados: "Cultura Brasileira e Identidade Nacional"; "A Moderna Tradição Brasileira"; Mundialização e Cultura"; "O Próximo e o Distante: Japão e modernidade-mundo"; "Mundialização: saberes e crenças"; "A Diversidade dos Sotaques: o inglês e as ciências sociais" (todos pela Ed.Brasiliense); "Universalismo e Diversidade" (Bomtempo); "O Universo do Luxo" (Alameda); "Sobre o Trabalho Intelectual (Zouk).   

Referências

ALENCAR, José de. O Guarani. São Paulo: Ática, 1999.

BALANDIER, Georges. Antropologia Política. São Paulo: Difel, 1969.

BASTIDE, Roger. Le Sacré Sauvage. Paris: Payot, 1975.

BASTIDE, Roger. Estudos Afro-Brasileiros. São Paulo: Perspectiva, 1973.

DOUGLAS, Mary. Pureza e Perigo. São Paulo: Perspectiva,1976.

GLUCKMAN, Max. Custam and Conflit in Africa. Oxford, 11, Basil Blackwel, 1963.

GOBINEAU, Joseph Arthur. Ensayo sobre la desigualdad de las razas humanas. Barcelona: Editorial Apolo, 1937.

MAGALHÃES, Couto de. O selvagem. Rio de Janeiro: Brasiliana, s.d.p.

ORTIZ, Renato. Cultura Brasileira e identidade nacional, São Paulo, Brasiliense, 1985.

RODRIGUES, Nina. L’Animisme Fétichiste des Negres de Bahia. 1890.

ROMERO, Silvio. História da Literatura Brasileira. Tomo I, Rio de Janeiro: José Olympio, 1960.

TURNER, Victor. O Processo Ritual. Petrópolis: Vozes, 1973.

Downloads

Publicado

2023-07-10

Como Citar

ORTIZ, R. O Guarani: mito de fundação da brasilidade. O Público e o Privado, Fortaleza, v. 21, n. 44, p. 22–38, 2023. DOI: 10.52521/21.8403. Disponível em: https://revistas.uece.br/index.php/opublicoeoprivado/article/view/8403. Acesso em: 11 maio. 2024.