A economia moral da esfera pública

o pentecostalismo e os limites entre público e privado na sociedade brasileira

Autores

DOI:

https://doi.org/10.52521/opp.v23n1.15221

Palavras-chave:

Esfera Pública, Religião, Economia Moral, Pentecostalismo

Resumo

Este artigo visa refletir como o pentecostalismo perturba categorias estabelecidas para os estudos da religião no Brasil, especialmente a dicotomia público-privado e, consequentemente, o papel da religião na esfera pública. Essa reflexão dar-se-á a partir de dois eventos acontecidos em Brasília e liderados pelo pastor Silas Malafaia (um dos principais opositores dentre os líderes pentecostais às políticas progressistas), nos quais fiz de trabalho de campo com observação participante:  a participação de sua igreja nos protestos pelo impeachment da presidente Dilma Rousseff em 2016 e o chamado Ato Profético pelo Brasil, realizado bem na sequência da aprovação do processo do impeachment na Câmara. Sem abandonar a noção de esfera pública habermasiana, mas cotejando-a com as críticas feminista e dos estudos do secularismo dirigidas a essa mesma noção, quero apresentar o que chamo de economia moral da esfera pública e com isso contribuir para esclarecer o fenômeno da atuação pública pentecostal na sociedade brasileira.

Biografia do Autor

Cleonardo Gil de Barros Mauricio Junior, Museu Nacional - UFRJ

Pesquisador de Pós-Doutorado no Museu Nacional (UFRJ) e bolsista da FAPERJ (Pós-Doutorado Nota 10). É Doutor em Antropologia pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e membro dos grupos de pesquisa Ludens (Laboratório de Antropologia do Lúdico e do Sagrado), Ocre (Observatório de Cultura, Religiosidade e Emoções) e Lapso - Antropologia da Moral e da Política.

Referências

ARAÚJO, Luiz Bernardo Leite. Religião e Modernidade em Habermas. São Paulo: Loyola, 1996.

ARAÚJO, L. B. L; MARTINEZ, M. B; PEREIRA, T. S. Esfera Publica e Secularismo: ensaios de filosofia política. Rio de Janeiro: EdUERJ, 2012.

ASAD, T. Formations of the secular: Christianity, Islam, modernity. Stanford: Stanford University Press, 2003.

ASAD, T. Reflections on Laïcité and the Public Sphere. Items and Issues, v. 5, n. 3, p. 1-6, 2005.

ASAD, T. Reflexões sobre crueldade e tortura. Tradução de Bruno Reinhardt e Eduardo Dullo. Revista Pensata, v. 1, n. 1, p. 164-187, 2011.

BÍBLIA, A.T. Deuteronômio. In: Bíblia Online. São Paulo: Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil (SBTB), 2011. Disponível em: https://www.bibliaonline.com.br/acf/dt/11/24

BIRMAN, Patricia (org). Religião e Espaço Público. São Paulo: Editora Attar, 2003.

BOLTANSKI, L; THÉVENO,T. De la Justification: les économies de la grandeur. Paris: Gallimard, 1991.

BURITY, J. A cena da religião pública: contingência, dispersão e dinâmica relacional. Novos Estudos CEBRAP, v. 102, p. 89-105, 2005.

CALHOUN, C. Introduction: Habermas and the Public Sphere. In: CALHOUN, C. (org.) Habermas and the Public Sphere. Massachusetts: MIT Press. 1993.

CALHOUN, C. Rethinking the public sphere. Presentation to the Ford Foundation. 7 de fev. 2005.

CAMPOS, R.; GUSMÃO, E.; MAURICIO JUNIOR, C. A disputa pela Laicidade: uma análise das interações discursivas entre Jean Wyllys e Silas Malafaia. Religião & Sociedade, v. 35, n. 2, p. 165-188, 2015.

CEFAÏ, D. ¿Qué es una arena pública? Algunas pautas para un acercamiento pragmático. In: CEFAÏ, D.; JOSEPH, I. La herencia del pragmatismo: conflictos de urbanidad y pruebas de civismo. Paris: L’Aube, 2012.

CONNOLLY, W. E. Why I am not a secularist. Minneapolis/Londres, University of Minnesota, 1999.

DULLO, E; QUINTANILHA, R. A sensibilidade secular da política brasileira. Debates do NER, v. 1, n. 27, p. 173-198, 2015

FASSIN, D. Moral Economies Revisited. Annales. Histoires, Science Sociales, v. 64, n. 6, p. 1237-1266, 2009.

FRASER, N. What is critical about critical theory? The case of Habermas and gender. New German Critique, n. 35, p. 97-131, 1985.

GAL, S. A semiotics of the public/private distinction. Differences: A Journal of Feminist Cultural Studies, v. 13, p. 77–95, 2002.

GEERTZ, C. A Religião como Sistema Cultural. In: A Interpretação das Culturas. Rio de Janeiro: LTC,1989.

GIUMBELLI, E. Símbolos religiosos em controvérsias. São Paulo: Terceiro Nome, 2014.

HABERMAS, J. Mudança Estrutural da Esfera Pública. São Paulo, Editora Unesp, ([1962] 2014

HABERMAS, J. Teoria do Agir Comunicativo. São Paulo: WMF Martins Fontes, [1981] 2012.

HABERMAS, J. Religião na esfera pública: pressuposições cognitivas para o ‘uso público da razão’ de cidadãos seculares e religiosos. In: Entre Naturalismo e Religião. Estudos filosóficos. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 2007ª.

HABERMAS, J. Fundamentos pré-políticos do Estado de direito democrático? In: HABERMAS, J.; RATZINGER, J. Dialética da secularização: sobre razão e religião. Aparecida, SP: Ideias & Letras, 2007b.

LANDES, J B. The public and the private: a feminist reconsideration. In: Feminism, the public and the private. Oxford; New York: Oxford University Press, 1998.

MARIANO, R. Neopentecostais: sociologia do novo pentecostalismo no Brasil. São Paulo, Loyola, 1999.

MAURICIO JUNIOR, C. Religião como espada do povo: o modo pentecostaharsh de presença pública do pentecostalismo no Brasil e o recrudescimento de sensibilidades beligerantes. Antropolítica: Revista Contemporânea de Antropologia, n. 55, p. 01-27, 2023

MAURICIO JUNIOR, C. Tempo e antropologia do cristianismo. Ciencias Sociales Y Religión, n. 24), p. 01-26, 2022.

MAURICIO JUNIOR, C. Como os evangélicos discutem política? A constituição do crente-cidadão entre os jovens universitários da igreja de Silas Malafaia. Tese (Doutorado em Antropologia). Programa de Pós-Graduação em Antropologia, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2019.

MAURICIO JUNIOR, C. “Acordamos, somos cidadãos”: os evangélicos e a constituição ética de si na relação com o político. Revista Anthropológicas, n. 39, p. 99-135, 2019b.

MONTERO, P. Jurgen Habermas: Religião, diversidade cultural e publicidade. Novos Estudos CEBRAP, v. 84, p. 199-213, 2009

MONTERO, Paula (org). Religiões e Controvérsias Públicas: experiências, práticas sociais e discursos. São Paulo: Terceiro Nome, 2015.

MONTERO, P; SILVA, A. L; SALES, L. Fazer religião em público: encenações religiosas e influência pública. Horizontes Antropológicos, v. 24, n. 52, p. 131-164, 2018.

ORO, A. P.; CAMURÇA, M. Da secularização ao espaço público: meandros e mediações frente ao esquema de separação entre secular e religioso, Horizontes Antropológicos, v. 24, n. 52, p. 7-20, 2018.

ORO, A. P.; STEIL, C. A.; CIPRIANI, Roberto; Giumbelli, Emerson (orgs). A religião no espaço público: atores e objetos. São Paulo: Terceiro Nome, 2012.

SCOTT, J. The moral economy of the peasant: rebellion and subsistence in Southeast Asia. New Haven: Yale University Press, 1973.

TAYLOR, C. Uma Era Secular. São Leopoldo: Ed. Unisinos, 2010.

TAYLOR, C. Why We Need a Radical Redefinition of Secularism. In: Butler, Judith (et al). The power of the religion in the public sphere. Columbia university press, 2011.

THOMPSON, E. P. The making of the English working class. London: Vintage Books, 1963.

WARNER, Michael. Publics and Counterpublics. New York: Zone Books, 2005.

YOUTUBE. Pr. Silas Malafaia em Manifestação fora Dilma Rousseff, 2016. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=zECCr55fxvI

Downloads

Publicado

2025-07-04

Como Citar

MAURICIO JUNIOR, C. G. de B. A economia moral da esfera pública: o pentecostalismo e os limites entre público e privado na sociedade brasileira. O Público e o Privado, Fortaleza, v. 23, n. 1, p. e15221, 2025. DOI: 10.52521/opp.v23n1.15221. Disponível em: https://revistas.uece.br/index.php/opublicoeoprivado/article/view/15221. Acesso em: 9 jul. 2025.