O medo e a violência como parte do cotidiano das/os agentes prisionais

Autores

DOI:

https://doi.org/10.52521/21.10405

Palavras-chave:

Polícia penal, Subjetividade, Trabalho, Prisões, Cartografia

Resumo

A proposta deste artigo é compreender como agentes prisionais femininas e masculinas percebiam o medo e a violência como de seu trabalho e, em que medida, esses sentimentos transbordavam para as suas rotinas fora do cárcere. Para tanto, foram analisados dados (qualitativos e quantitativos) coletados junto a profissionais que atuavam em Minas Gerais entre 2014 e 2018. Os resultados indicam que, no cotidiano do trabalho, homens e mulheres sentem medo igualmente, mas ao saírem da prisão, os homens se sentem mais ameaçados que as mulheres. No ambiente de trabalho, os homens temem, em maior medida do que as mulheres, serem atingidos por arma de fogo ou arma branca, bem como de sofrer agressão física ou violência psicológica. Em parte, isso acontece porque eles são mais propensos à vitimização por agressão, violência física e suborno no cotidiano de trabalho do que elas. Fora do ambiente de trabalho, apesar do maior medo deles, homens e mulheres adotam igualmente estratégias de proteção de sua identidade de agente prisional, tanto para evitar acertos de contas como para esconder uma profissão que ainda é vista como desacreditada.

Biografia do Autor

Isabela Araujo, Universidade Federal de São Carlos

Doutoranda em sociologia pela Universidade Federal de São Carlos, mestre em Sociologia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e graduada em Ciências Sociais pela mesma instituição. Participou de projetos de pesquisa na área de saúde pública com ênfase em avaliação de políticas públicas em saúde quando membro do Observatório de Recursos Humanos em Saúde. Atualmente, é pesquisadora do Centro de Estudos em Criminalidade e Segurança Pública (CRISP) na UFMG e membro do Grupo de Estudos sobre Violência e Administração de Conflitos (GEVAC) na UFSCar. Atua em pesquisas na área de sociologia da prisão, da punição e do conflito.

Ludmila Ribeiro, Universidade Federal de Minas Gerais

É professora associada do Departamento de Sociologia (DSO) e pesquisadora do Centro de Estudos em
Criminalidade e Segurança Pública (Crisp), ambos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG, Belo Horizonte, Brasil). É doutora em sociologia pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro (Iuperj), mestre e bacharel em administração pública pela Fundação João Pinheiro (FJP, Belo Horizonte, Brasil) e bacharel em direito pela UFMG.

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Publicado

2023-12-15

Como Citar

ARAUJO, I.; RIBEIRO, L. O medo e a violência como parte do cotidiano das/os agentes prisionais. O Público e o Privado, Fortaleza, v. 21, n. 45, p. 84–109, 2023. DOI: 10.52521/21.10405. Disponível em: https://revistas.uece.br/index.php/opublicoeoprivado/article/view/10405. Acesso em: 27 abr. 2024.