A participação como instrumento de transformação ecológica e social: a abordagem inovadora de Papa Francisco*

Resumo

Qual valor o Papa Francisco deu ao apelo repetido à abertura de espaços de “participação” para que os indivíduos e as comunidades possam ser parte ativa da indispensável mudança exigida ao mundo e à Igreja? Explorando mais de 120 documentos do seu pontificado, o artigo tenta compreender como o termo “participação” (já presente nos predecessores) foi redefinido pelo Francisco, associando-o a outros termos referentes à transformação política e social, à cidadania e à harmonia entre homem e natureza. No passado o conceito estava ligado a visões estáticas de subsidiariedade enquanto princípio que rege a divisão de tarefas e a articulação de poderes que regulam o “mundo de César” e a relação de autonomia com a sociedade natural e as suas organizações. Em Francisco, o núcleo de significados que liga o termo ao direito de todos (sobretudo dos mais frágeis) de serem reconhecidos pela sua capacidade de intervenção direta para identificar as soluções mais adequadas para a valorização da dignidade e a melhoria da condição humana e espiritual, enriquece-se de diferentes nuances. Ele dialoga com a necessidade de resistir às abordagens tecno-burocráticas e aos populismos identitários e excludentes, e com a necessidade de construir novas metodologias que tornem mais atrativo o envolvimento ativo dos cristãos na transformação da própria Igreja e do seu funcionamento. Analisando o recém-acabado Sínodo sobre “comunhão, participação, missão”, a análise comprova como o tema da participação foi parte central da mensagem de Francisco e da sua ação reformadora, centrada na figura fraterna e misericordiosa do Bom Samaritano.