A favela, o mundo e o asfalto:
os deslocamentos de um botequim durante a política de pacificação no Rio de Janeiro
DOI:
https://doi.org/10.52521/19.4425Resumo
Esse trabalho analisa o percurso da política de pacificação em uma favela no Rio de Janeiro a partir das trajetórias de um dono de botequim e de seu estabelecimento. Em 2009, após a instalação de uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), o cotidiano do Chapéu Mangueira, na Zona Sul carioca, foi transformado pelo aumento no fluxo de turistas e pelo incremento na circulação de dinheiro entre os pequenos negócios locais. Os desdobramentos desse processo têm como um de seus principais expoentes o Bar do David, uma birosca inaugurada em 2010 que se tornou um ponto turístico na cidade e foi eleita em 2016 o melhor boteco do país. Após a descaracterização da política de pacificação, acelerada a partir de 2017, a favela voltou a conviver com incursões policiais e conflitos armados entre traficantes de drogas rivais. Isso reconfigurou a economia local e afastou a maior parte da clientela do bar. Diante desse cenário, David abriu em 2019 uma filial no “asfalto”, no bairro de Copacabana. Isso indica que, em aproximadamente dez anos, transformações políticas e econômicas na cidade fizeram com que as condições para o funcionamento de um boteco em uma favela carioca fossem impulsionadas e posteriormente embargadas. Quando mediadas pelo arcabouço conceitual da sociologia, esses itinerários permitem também refletir sobre a conjuntura recente do “problema da favela” no Rio de Janeiro