AS NARRATIVAS DE UM BANDIDO MIDIÁTICO

PAULO QUEIXADA COMO UM PERSONAGEM SIMBÓLICO DA FALÊNCIA DO SISTEMA PENAL POTIGUAR (1983-1989)

Autores

Palavras-chave:

Diário de Natal, Imprensa, Criminalidade, Celebridade, Paulo Queixada

Resumo

Este artigo analisa a construção midiática de Paulo Nicácio da Silva, ou o Paulo Queixada, como arquétipo do “bandido do momento” nas páginas do Diário de Natal entre 1983 e 1989. Ao longo desse período, a imprensa local transformou o detento em uma figura ambivalente: simultaneamente estigmatizada e celebrizada. A partir de episódios como a “Chacina da Pororoca” e entrevistas sensacionalistas, Queixada foi apresentado como um símbolo da violência carcerária, deslocando o foco das falhas estruturais do sistema penal para a personalização da criminalidade. Com base em autores como Goffman (2002; 2008), Foucault (2014) e Susin (2022), a pesquisa problematiza como a imprensa atua como um palco simbólico de espetacularização da violência, contribuindo para a legitimação do estigma e da exclusão social. A Penitenciária Doutor João Chaves, espaço emblemático dessa representação, aparece como síntese da falência do sistema prisional potiguar durante a ditadura e seus desdobramentos.

Biografia do Autor

Antônia Jéssica Silva, Universidade do Estado do Rio Grande do Norte (UERN)

Graduada em História pela Universidade Estadual do Rio Grande do Norte (UERN)

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Publicado

2025-12-16

Como Citar

SILVA, A. J. AS NARRATIVAS DE UM BANDIDO MIDIÁTICO: PAULO QUEIXADA COMO UM PERSONAGEM SIMBÓLICO DA FALÊNCIA DO SISTEMA PENAL POTIGUAR (1983-1989). CENTÚRIAS - Revista Eletrônica de História, Limoeiro do Norte, v. 3, n. 7, p. 60–73, 2025. Disponível em: https://revistas.uece.br/index.php/centurias/article/view/15850. Acesso em: 17 dez. 2025.