CARACTERIZAÇÃO DO TRANSBORDAMENTO DO VÍRUS DA RAIVA EM CÃES E GATOS NO ESTADO DO CEARÁ (2015 A 2022)
Palavras-chave:
Tipificação genética, saúde pública, raiva animalResumo
O vírus da raiva causa uma infecção neurológica aguda e fatal em mamíferos, sendo uma zoonose de alta letalidade. No Brasil, há sete caracterizações antigênicas (AgV) do vírus rábico. Desta forma, o objetivo desse estudo foi
caracterizar os casos de transbordamento do vírus rábico em cães e gatos no estado Ceará de 2015 a 2022. A partir dos dados de domínio público disponíveis no portal do Ministério da Saúde foi possível descrever e mapear os resultados das tipificações genéticas através de gráficos do Excel® e demonstrar espacialmente por mapas gerados pelo Qgis®. No estado do Ceará foram detectados 16 casos de transbordamentos do vírus rábico no período estudado, com 11 cães e 5 gatos infectados pelas variantes Agv2* ou AgV3. Em todos os cães ocorreu o transbordamento pela variante Agv2*. Nos 5 casos em gatos, 3 (60%) estavam infectados pela Agv2* e 2 (40%) pela AgV3*. Dentre os 184 municípios cearenses, os registos de transbordamentos ocorreram em 14 (7,6%). O Ceará é o terceiro estado do país com o maior número de transbordamentos em cães e gatos no período estudado, com 16 (20%) casos. Este número foi inferior apenas ao registrado em São Paulo (20 casos - 25%) e Pernambuco (18 casos - 23%). Apesar dos avanços no controle da raiva urbana no Ceará, a sobreposição espacial, temporal e ecológica, natural e expansiva, com vários hospedeiros reservatórios do vírus e o aquecimento global fazem com que a raiva se apresente como uma das principais incógnitas atuais de saúde pública.
Referências
AGUIAR, T.D.F.; COSTA, E.C.; ROLIM, B.N.; MORAIS, N.B.; TEIXEIRA, M.F.S. Risco de
transmissão do vírus da raiva oriundo do sagui (Callithrix jacchus), domiciliados e
semidomiciliados, para o homem na região metropolitana de Fortaleza, estado do Ceará.
Revista da Sociedade Brasileira de Medicina Tropical, v.44, n.3, p.356-363, 2011.
ALVES, A.J.S.; GUILLOUX, A.G.A.; ZETUNO, C.B; POLO, G.; BRAGA, G.B;
PANACHÃO, L.I.; SANTOS, O.; DIAS, R.A. Abandono de animais na América Latina:
Revisão de Literatura. Revista de Educação Continuada em Medicina Veterinária do
CRMV-SP, v.11, n.2, p.34-41, 2013.
BATISTA, M.N.; NEILSON, R.B.; MATOS, C.H.H.; BRITO, N.J.; SILVA, L.M. Raiva em
micos (Callithrix jacchus) no Estado do Ceará, Brasil, uma variante viral distinta? Jornal dos
Micróbios, seus vetores causando zumbido. Infectar, v.95, n.5, p.609–610, 2000.
BORUCKI, M.K.; CHEN-HARRIS, H.L.A.V.; VANIER, G.; WADFORD, D.A.;
MENSAGEIRO, S.; ALLEN, J.E. Sequenciamento ultraprofundo de populações de vírus da
raiva intra-hospedeiro durante a transmissão entre espécies. PLoS Negletec Tropical Diseases,
v.7, p.22555, 2013.
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Coordenação-Geral de
Desenvolvimento da Epidemiologia em Serviços. Guia de Vigilância em Saúde: volume único
[recurso eletrônico] / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, CoordenaçãoGeral de Desenvolvimento da Epidemiologia em Serviços. – 5. ed., Brasília: Ministério da
Saúde, p.989-997, 2021.
BRASIL. Ministério da Saúde. Cobertura vacinal de cães e gatos [S.I.]: Ministério da Saúde,
agosto 2024a. Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-az/r/raiva/cobertura-vacinal-de-caes-egatos#:~:text=Atualmente%2C%2023%20Unidades%20
Federadas%20realizam,%C3%A9%20de%2060%2C4%25. Acesso: 05 de set. 2024.
BRASIL. Ministério da Saúde. Raiva Humana [S.I]: Ministério da Saúde, 08 agosto 2024b.
Disponível em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/r/raiva/raiva-humana.
Acesso: 05 set. 2024.
CARLSON, C.J.; ALBERY, G.F.; MEROW, C.; TRISOS C.H.; ZIPFEL, C.M.; ESKEW, E.A.;
OLIVAL, K.J.; ROSS, N.; BANSAL, S. As mudanças climáticas aumentam o risco de
transmissão viral entre espécies. Natureza, v.607, n.20, p.555–562, 2022.
CASTILHO, J.G.; DE SOUZA, D.N.; OLIVEIRA, R.N.; CARNIELI, P.; BATISTA, H.B.C.R.;
PEREIRA, P.M.C.; MACEDO, C.I. A importância epidemiológica de morcegos na transmissão
da raiva em cães e gatos no estado e São Paulo, Brasil, entre 2005 e 2014. Zoonoses e Saúde
Pública, v.64, n.6, p.423–430, 2014.
COSTA, A. O Ceará perdeu o equivalente a 22,6 mil castelões em área de formações
florestais nos últimos 35 anos. Diário do Nordeste. Publicado em:13 de Outubro de 2021,
disponível em: Https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/regiao/ceara-perde-o-equivalente
-a-226-mil-casteloes-em-area-de-formacoes-florestais-nos-ultimos-35-anos-1.3147444.
Acessado em: 01 dez. 2023.
DE SOUZA, D.N.; OLIVEIRA, R.N.; ASPRINO, P.F.; MACEDO, C.I.; ACHKAR, S.M.;
FAHL, W.O.; CASTILHO, J.G. Evolução e divergência da linhagem genética Desmodus
rotundus/Artibeus lituratus do vírus da raiva no estado de São Paulo. Arquivos de Virologia,v.168, n.266, 2023a.
DE SOUSA, L.L.F.; DE SOUZA, T.L.; TIBO, L.H.S.; MOURA, F.B.P.; JUNIOR, F.A.S.; DE
OLIVEIRA-FILHO, E.F.; LUDWIG-BEGALL, L.F; CABRAL-MIRANDA, G.;
ANDREATA-SANTOS, R.; JANINI, LMR; ET AL. Variantes do vírus da raiva de morcegos
intimamente relacionadas às variantes encontradas em saguis (Callithrix jacchus), uma fonte
negligenciada de infecção humana por raiva no Brasil. Revista de Virologia Médica, v.95, n.8,
b.
DUARTE, N.F.H.; PIRES, N.R.J.; VIANA, V.F.; FEIJÃO, L.X.; ABREU, K.G.; MELO,
I.M.L.A. Epidemiologia da raiva humana no estado do Ceará, 1970 a 2019. Epidemiologia e
Serviços de Saúde, v.30, n.1, p.e2020354, 2021.
DUARTE, N.F.H. A importância dos canídeos silvestres na epidemiologia da raiva no
estado do Ceará (2003-2013): um estudo retrospectivo, 2015. 111p. (Dissertação de
Mestrado em Ciências Médicas). Universidade Federal Do Ceará. Fortaleza/Ceará, 2015.
ESCOBAR L.E.; PETERSON, A.T.; FAVI, M.; YUNG, V.; MEDINA-VOGEL, G. Raiva
transmitida por morcegos na América Latina. Revista do Instituto de Medicina Tropical, São
Paulo, v.57, n.1, p.63–72, 2015.
FAHL, W.O. Filogenia de vírus da raiva isolados de morcegos frugívoros do gênero
Artibeus e relacionada a morcegos hematófagos com base nos genes codificadores da
nucleoproteína N e glicoproteína G, 2009. 134p. (Dissertação de Mestrado em Epidemiolgia
Aplicada à Zoonoses). Universidade de São Paulo, 2009.
FARIAS, L.A.B.G.; CAMINHA, J.; PERDIGÃO NETO, L.V. Raiva Humana durante a
pandemia de COVID-19: Insight sobre a raiva no mundo e no Brasil. Revista da Sociedade
Brasileira de Medicina Tropical, v.57, p.e00300, 2024.
FENTON, A. PEDERSEN, AB. Estrutura epidemiológica comunitária para classificar ameaças
de doenças. Emerging Infectious Disease, v.11, n.12, p.1815–1821, 2005.
FERREIRA, J.P.; LEITÃO, I.; SANTOS, R.M.; REVILLA, E. Human-related factors regulate
the spatial ecology of domestic cats in sensitive areas for conservation. PLOS ONE, v.6, n.10,
e25970, 2011.
FISHER, C.R.; STREICKER, D.G.; SCHNELL, M.J. A propagação e evolução do vírus da
raiva: conquistando novas fronteiras. Nature Reviews Microbiology, v.16, p.241–255, 2018.
GHENO, B.P.; LOPES, T.S.; DIESEL, L.P.; STRECK, A.F.; GHENO, F.P.; LUNGE, V.R.;
SOARES, A.M.; BOS, A.J.G. Cobertura vacinal no Brasil em combate ao vírus da raiva em
cães e gatos associada a fatores sociodemográficos entre os anos de 2013 a 2019. Revista Contemporânea, v.3, n.10, p.16627–16642, 2023.
GORBUNOVA, V.; SELUANOV, A.; KENNEDY, B.K. The World Goes Bats: Living Longer
and Tolerating Viruses. Cell Metabolism, v.32, n.1, p.31–43, 2020.
HANLON, C.A. Raiva em animais terrestres. In: JACKSON, A.C Raiva base científica da
doença e seu manejo, 3. ed., Elsevier, 2013, p.179–213
IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Cidades e Estados. Estado do Ceará.
Censo Brasileiro de 2022, 2022. Disponível em: https://ftp.ibge.gov.br/Censos/
Censo_Demografico_2022/Previa_da_Populacao/POP2022_Brasil_e_UFs.pdf. Acesso em: 05
jan. 2024.
INMET. Instituto Nacional de Metereologia. 2023 é o ano mais quente da história do Brasil,
Disponível em: https://portal.inmet.gov.br/noticias/ano-de-2023-%C3%A9-o-mais-quente-dahist%C3%B3ria-do-brasil. Acesso: 05 jan. 2024.
LUNA, E.J.A. A emergência das doenças emergentes e as doenças infecciosas emergentes e
reemergentes no Brasil. Revista Brasileira de Epidemiologia, v.3, n.5, p.229-243, 2002.
MIKAKO, I.; YOHKO, T.; ARAI, T.I.; TAKEO, S.; FUMIO, H.I.; TOMOHIKO, T.; ICHIRO,
K. Genetic Characterization and geographic distribution of rabies virus isolates in Brazil:
Identification of two reservoirs, dogs and vampire bats. Virology, v.284, n.2, p.214-222, 2001.
MORIYAMA, M.; ICHINOHE, T. A alta temperatura ambiente amortece as respostas imunes
adaptativas à infecção pelo vírus influenza A. PNAS Proceedings of the National Academy
of Sciences., v.116, n.8, p.3118–3125, 2019.
M.S. Ministério da Saúde. DATASUS. Tabnet: raiva humana- casos confirmados notificados
no Sistema de Notificação de Agravos de Notificação-SINAN. Ministério da Saúde, 2024.
MORIYAMA, M.; ICHINOHE, T. A alta temperatura ambiente amortece as respostas imunes
adaptativas à infecção pelo vírus influenza A. PNAS Proceedings of the National Academy
of Sciences, v.116, n.8, p.3118–3125, 2019.
PLOWRIGHT, R.; PARRISH, C.; MCCALLUM, H.; HUDSON, P.J.; KO, A.I., GRAHAM
A.L.; SMITH, J. O. Caminhos para repercussões zoonóticas. Nature Review Microbiology,
v.15, n.8, p.502–510, 2017.
POCH, O.; BLUMBERG, B.M.; BOUGUELERET, L.; TORDO, N. Sequence comparison of
five polymerases (L proteins) of unsegmented negative-strand RNA viruses: theoretical
assignment of functional domains. Journal Geneneral Virology, v.71, n.5, p.1153-62, 1990.
ROCHA, S.M.; DE OLIVEIRA, S.V.; HEINEMANN, M.B.; GONÇALVES, V.S.
Epidemiological Profile of Wild Rabies in Brazil (2002-2012). Transbound and Emerging
Diseases, v.2, n.2, p.624-633, 2017.
RODRIGUES, L. Quase 80% dos trabalhadores ocupados no Ceará recebem até 1 salarário
mínimo. Diário do Nordeste de 7 de dezembro de 2023. Disponível em:
https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/negocios/quase-80-dos-trabalhadores-ocupadosno-ceara-recebem-ate-um-salario-minimo-1.3452844. Acesso em: 02 jan. 2024.
RUPPRECHT, C.E.; HANLON, C.A.; HEMACHUDHA, T. Rabies re-examined. The Lancet
Infectious Diseases, v.2, n.6, p.327-43, 2002.
RUYVER, C.; ABATIH, E.; VILLA, P.D.; PEETERS, E.; CLEMENTS, J.; DUFAU, A.;
MOONS, C.P.H. Public opinions on seven different stray cat population management scenarios in Flanders, Belgium. Research Veterinary Science, v.136, n.0034-5288, p.209-219, 2021.
SCHNEIDER, M.C.; ALMEIDA, G.A.; SOUZA, L.M.; MORARES, N.B.; DIAZ, R.C.
Controle a raiva no Brasil e 1980 a 1990, Revista de Saúde Pública, v.30, n.2, p.196-203,
SCHNEIDER, M.C.; MIN, K.D; ROMIJN, P.C.; DE MORAIS, N.B.; MONTEBELLO, L.;
MANRIQUE, R.S.; SCIANCALEPORE, S.; HAMRICK, P.N.; UIEDA, W.; CÂMARA, V.M.;
LUIZ, R.R; BELOTTO, A. Fifty Years of the National Rabies Control Program in Brazil under
the One Health Perspective. Pathogens, v.12, n.11, p.1342, 2023.
SESA. Secretaria de Saúde do Estado do Ceará. Notícia: Sesa orienta sobre o que fazer em casos de agressão por animais domésticos ou silvestres [Internet]. 06 de maio de 2023.
Ascom SESA, 2023. SILVA, L.P.; PINTO, A.P.V.B.; PONTES, A.N.; BICHARA, C.N.C. Epidemiologia da raiva em herbívoros domésticos em uma localidade na Amazônia brasileira. Revista Ibero Americana de Ciências Ambientais, v.11, n.3, p.105-112, 2020.
STREICKER, D.G.; LEMEY, P.; VELASCO-VILLA, A.A.; RUPPRECHT, C.E. Rates of viral
evolution are linked to host geography in bat rabies. PLoS Pathogens, v.8, n.5, p.e1002720, 2012.
VELASCO, V.A.; ESCOBAR, L.E.; SANCHEZ, A.; SHI, M.; STREICKER, D.G.;
GALLARDO, R.N.F.; VARGAS P.F.; GUTIERREZ, C.V.; DAMON, I.; EMERSON, G.
Successful strategies implemented towards the elimination of canine rabies in the Western Hemisphere. Antiviral Research, v.143, p.1-12, 2017.
VIEIRA S.F. O financiamento da saúde no Brasil e as metas da Agenda 2030: alto risco de insucesso. Rev Saúde Pública, v.54, p.127-136, 2020.
WHO. World Health Organization; FAO. Food and Agriculture Organization of the United Nations and OIE.World Organisation for Animal Health. Zero by 30: the global strategic plan to end human deaths from dog-mediated rabies by 2030, 2018
Downloads
Publicado
Como Citar
Edição
Seção
Licença
Este trabalho está licenciado sob uma licença Creative Commons Attribution 4.0 International License.
